23| Eu não estou bêbada

830 90 45
                                    

Depois de encher quatro cestos com roupas pretas, camisolas de bandas por mim desconhecidas, ténis e alguns acessórios estranhos, dirigimo-nos até à caixa para pagar a despesa. Michael e Luke estavam mais animados do que eu no que tocava à minha mudança de visual, e isso notava-se nas gargalhas que os dois expeliam e nas conversas animadas que tinham entre si. Contudo, eu limitei-me a ficar parada durante o tempo todo, de braços cruzados, enquanto deixava que os meus dois assistentes escolhessem roupa para mim e a atirassem para os cestos. Eles pareciam ser entendidos no assunto, por isso não questionei as suas escolhas. No entanto, se me iria vestir da mesma forma que eles, teria que começar já a mentalizar-me da morte da Cloe-pãozinho-sem-sal.

"Vocês têm a certeza que querem pagar isto tudo?", mordi o lábio, enquanto a rapariga de cabelos negros na caixa passava os objetos no leitor do código de barras. Sentia-me nervosa porque deviam estar ali mais de mil dólares, só em roupa. "Quer dizer, eu não sei se algum dia vou ser capaz de vos pagar. Além disso eu não vos pedi nada e..."

"Cala-te, Cloe.", Michael ordenou, com um sorriso nos lábios. "Vê isto como um investimento e um presente. Estamos a investir na tua vida social – que, por acaso, também é a nossa – e estamos a oferecer-te um presente de boas vindas. Não questiones, não argumentes, não digas nada."

"Okay, mas...", fui novamente interrompida, desta vez, pelo loirinho atraente. Ele parecia mais ocupado em fazer olhinhos à rapariga que nos estava atender, no entanto, também decidiu juntar-se à conversa.

"Tu agora és nossa, Cloe.", ele mostrou-me um sorriso pretensioso e juro que me senti assustada. Eu não quero ser de ninguém. Muito menos destes dois. "Ainda nos vais agradecer. Não agora, claro. Mas um dia."

"Vocês andaram nos ácidos?", interroguei, olhando-os com um ar assustado. Luke fez uma careta e Michael desatou às gargalhadas, como se eu tivesse dito a piada do século. A sério, alguém me venha salvar. "Espera lá, isto é tudo para eu me tornar na rapariga que tu queres que eu me torne?", arqueei a sobrancelha e puxei a camisola de Michael, obrigando-o a parar de rir e, consequentemente, a prestar-me atenção. "Tu querias que eu ficasse punk rock mas eu não queria e então revoltei-me e agora tu tiveste a tua oportunidade. Oh, céus. Como é que eu não percebi logo?"

"Demasiadas palavras.", Luke murmurou, com um ar confuso. Revirei os olhos.

"Este aqui," Olhei para Michael, continuando a agarrar com força na sua t-shirt de mangas cavas, "quis transformar-me numa pessoa que eu nunca fui." Respirei fundo. "Mas eu tenho uma novidade para vocês, seus idiotas. NINGUÉM ME CONTROLA!"

"Querem que eu ponha isto em sacos individuais ou...?", a rapariga que estava na caixa questionou, interrompendo a nossa pequena discussão. Luke lançou-lhe um sorriso demasiado estúpido e a miúda, provavelmente da nossa idade, franziu as sobrancelhas.

"Em sacos normais, por favor.", Michael atirou, continuando a fitar-me com um sorriso aparvalhado nos lábios. Ele está a irritar-me. "Cloe, ninguém te quer controlar."

"Oh, claro. Vocês só vieram comprar roupa para mim porque eu sou pobrezinha.", virei-lhes costas e saí daquele lugar, com vontade de cometer uma grande loucura. Estava farta que toda a gente tivesse esta atitude possessiva comigo, como se achassem que eu não tenho as minhas próprias capacidades de decidir o que é ou não melhor para mim. Bolas, agora é que pareço mesmo uma daquelas adolescentes deprimidas!

Soltei um guincho quando parei ao pé de uma fonte, no meio do centro comercial. O meu momento de raiva chamou a atenção das pessoas que estavam ali à volta, como é óbvio, e vi algumas velhinhas a olharem para mim de lado. Respirei fundo e voltei a gritar, desta vez mais alto. Basicamente, eu parecia uma louca. Mas bem, senti-me melhor ao fim de uns segundos, quando as pessoas começaram a olhar para mim como se eu fosse uma doente mental ou uma assassina em série. A única coisa que fiz foi levantar-lhes o dedo do meio, sorrindo-lhes ironicamente enquanto andava às rodas por ali.

Social Casualty ಌ m.cUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum