43| A tal necessidade

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Ser rapariga, sobretudo uma inexperiente rapariga que nunca sai há noite, tem as suas desvantagens. A primeira é a de não saber o que vestir, até porque existe toda uma lista de fatores associados à peça de roupa que se vai escolher para envergar durante uma noite fria, porém quente, num espaço fechado e cheio de pessoas; e a segunda é a de não conseguir controlar os nervos e a ansiedade que me consomem tão inexplicavelmente. Não estava habituada a ser convidada para eventos sociais, e, muito menos, a lidar com este friozinho que me atravessava a espinha e a emoção que me atacava o peito. Por outro lado, Michael parecia muito descontraído, fazendo nós aos atacadores das suas botas de cabedal. Ele havia demorado uns vinte minutos a vestir-se, no entanto, todos os minutos pareciam ter sido excecionalmente bem aproveitados, e, quando ele saiu do quarto falso, envergando umas skinny jeans negras, uma camisa da mesma cor e um casaco de cabedal, os meus olhos quase saltaram das órbitas. Ele parecia um Deus Grego com uma mistura de demónio das trevas, pronto para atacar a sua presa e devorá-la numa travessa a escaldar.

"Tu precisas de ajuda?", ele interrogou, levantando o seu traseiro da cama. Os seus olhos verdes brilharam na minha direção, e eu bufei, sabendo que era inútil tentar ignorar o quanto eu lhe queria saltar para cima e provar cada pedacinho da sua carne.

"Não. Porque haveria de precisar?", resmunguei, pousando a escova do cabelo em cima da mesa de centro. O meu cabelo estava macio e sedoso, uma raridade desde que eu o descolorara, mas começava a perder a cor, transformando-se quase num lilás pastel em vez de um roxo berrante.

"Porque estás há mais de quinze minutos a olhar para dois casacos...", o rapaz respondeu, aproximando-se. "Se queres a minha opinião, com esse vestido, acho que o de ganga ficaria melhor."

"Como se eu alguma vez fosse ligar à tua opinião.", murmurei, pegando no casaco de ganga. Enfiei-o nos braços e ajustei-o ao meu corpo, sentindo-me confortável nele. Caminhei até ao espelho da casa de banho e fitei-me durante uns segundos, analisando meu rosto. Eu tinha pedido emprestado à minha mãe alguns produtos de maquilhagem e, apesar de não ter exagerado muito, parecia natural com eles. O rímel nas minhas pestanas dava a ilusão de os meus olhos serem maiores, e o risco do eyeliner, que eu tanto levei a aperfeiçoar, contrastava com a palidez da minha pele. Nos meus lábios repousava um tom ligeiramente avermelhado, e eu mal podia esperar para marcá-lo na pele de alguém.

"Já podemos ir?", Michael interrogou, enfiando a chaves, a carteira e o telemóvel dentro dos bolsos das calças e do casaco. Eu ponderei durante segundos, remexendo furiosamente no meu cabelo. Peguei no meu telemóvel e fitei o visor, chegando à conclusão que já passavam alguns minutos da hora a que tínhamos combinado aparecer em casa de Luke para lhe dar boleia. Suspirei.

"Sim. O Luke já deve estar à nossa espera." Michael anuiu e encaminhou-me até às escadas. Descemo-las em silêncio, enquanto eu exalava profundamente de modo a saborear o aroma do perfume dele.

"Vocês já vão?", Karen questionou, parando para nos observar. "Vocês parecem tão crescidos!"

"Mãe...", Mike revirou os olhos, envergonhado. "Não sei a que horas voltamos, por isso não esperes por nós."

"Não prometo nada.", a loira riu-se. "Cloe, é melhor dizeres adeus à tua mãe. Ela está na sala."

Com um suspiro, desprendi-me do corpo de Michael e desci o resto das escadas, vagueando depois até à sala. Esta encontrava-se na penumbra, só com a luz da televisão a incidir sobre o corpo de Elsa, que se encontrava deitada no sofá a ver um filme. Ela já estava de pijama, parecendo sonolenta e concentrada naquilo que via.

"Olá.", cumprimentei, sentando-me na ponta do sofá. Elsa levantou os olhos da televisão e observou-me em silêncio, analisando o meu vestido curto e a minha cara sorridente. "Eu e o Michael vamos agora."

Social Casualty ಌ m.cDonde viven las historias. Descúbrelo ahora