41| Tão bom e tão mau

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"Tu incendiaste a tua própria casa, criaste distúrbios em três espaços públicos e ainda raptaste o Luke!?", Nia esbracejou, encontrando-se perplexa com a história que eu lhe contara. Os seus olhos encontravam-se arregalados, bem como os da maioria dos espectadores à minha volta, e podia ver no seu rosto o choque e o entusiasmo que eu conseguira espalhar com tais acontecimentos absurdos. Ela respirou fundo e calou-se por instantes, refletindo acerca de tudo, e, depois de uma pausa bem dramática, colocou a sua mão esquerda no meu ombro e abanou a cabeça, parecendo ligeiramente orgulhosa dos meus feitos. "Parabéns, Cloe, és a miúda mais fantástica e interessante que eu alguma vez conheci na vida."

"Foi isso que espalhou o amor?", Miranda levantou a sobrancelha, lançando-me um olhar malicioso. Não compreendia totalmente a que raio estava ela a referir-se, mas tinha uma pequena ideia. Estas raparigas conseguem ser ainda mais sinistras que a minha mãe.

"DUH, CLARO QUE O MICHAEL SE APAIXONOU PELO ESPIRITO LIVRE DA CLOE!", Nia voltou a gritar, praticamente aos meus ouvidos. Fiz uma careta desgostosa e gemi, demasiado desconfortável com o rumo que aquela conversa começava a tomar.

"Conhecendo o Michael como conheço, parece-me que não foi só por isso que ele se apaixonou.", Rena encolheu os ombros, parecendo desinteressada na conversa. Na verdade, ela tinha estado muito calada durante a meia hora que passámos juntas, e algo me dizia que a rapariga de cabelos cor-de-rosa não estava realmente bem. Os seus olhos verdes encontravam-se perdidos numa distante realidade, e o seu corpo irrequieto. "Verdade seja dita, tu tens muitos atributos."

"Obrigada... acho eu.", cerrei os olhos, confusa com as suas palavras rebuscadas. À medida que ia conhecendo estas três raparigas, percebia que não valia a pena negar o meu amor pelo Michael, ou vice-versa, porque, caso eu o fizesse, elas gritar-me-iam aos ouvidos e lançariam ao ar razões estapafúrdias para a existência do nosso amor, apanhando-me desprevenida com argumentos bastante válidos para ele ser real. Basicamente, as três transformar-se-iam em demónios possuídos, crentes na esperança de um casal imaginário que eu tanto queria evitar. Instalar-se-ia um clima histérico e eu não conseguia lidar com tais acusações, pelo que decidira apenas fugir à confirmação, e deixá-las palrar sobre as suas ilusões à vontade. Sou tão boa pessoa.

"Então vocês conhecem-se desde pequenos, não é?", Rena voltou a falar, desta vez um pouco mais animada e descontraída. Ela era adorável, apesar do ar duro que tentava manter.

"Sim.", suspirei, percebendo que já aturava Michael Clifford há uns bons quinze anos. Bem, mais precisamente onze anos, visto que estivemos sete anos longe um do outro. "Quase há uma vida inteira."

"QUE FOFOS!", Nia aplaudiu, saltitando no seu lugar. Rena revirou os olhos perante a atitude da irmã (sim, eu descobri que elas são irmãs) e deixou escapar um suspiro, que foi o suficiente para a morena lhe lançar um revirar de olhos.

"Podes baixar o volume.", a mais pequena resmungou, "Aqui ninguém é surdo."

"Bem, eu não diria que ninguém é surdo.", Miranda constatou, elevando o dedo indicador no ar. Ela afastou o seu cabelo loiro do pescoço e ergueu o queixo, parecendo muito convicta. "Naquela noite em casa da Marcie eu quase fiquei surda quando nos pusemos a ouvir os CD's do Oscar, e eu juro, se não tivesse sido a Nia e os seus belos gritos, eu penso que nunca recuperaria do choque."

"Não fales disso, se faz favor.", Rena abanou a cabeça muito lentamente, parecendo estar a conter-se para não iniciar ali uma insultuosa discussão.

"Fraquinha.", a loira cuspiu, virando o rosto na minha direção. "Então, Cloe, gostas de música?"

"Eu...", mordisquei o lábio, baixando o rosto na direção do meu colo. Brinquei com as minhas mãos suadas e aclarei a garganta, tentando formular uma reposta coerente e à altura das minhas características de espirito livre e aparência alternativa. Sou uma fraude, mais vale admitir. "Eu adoro.", sorri forçadamente, tentando manter uma postura descontraída. "O Michael está sempre a mostrar-me bandas novas. Ele é tipo o meu mentor."

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now