15| Eu não sou punk rock!

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Esfreguei as mãos nas minhas calças, manchando-as de azul, e segurei uma madeixa de cabelo entre os dedos, erguendo-a à frente dos meus olhos. Os meus lábios abriram-se e várias obscenidades escaparam deles, enquanto eu tentava entender o porquê de o meu cabelo estar azul, e não castanho, como me lembrava de o ter esta manhã. Fechei os olhos com força e respirei fundo.

"Michael, para o carro.", Pedi lentamente, num tom brando e contido. Quando voltei a levantar as minhas pálpebras e rodei a cabeça, vi o sorriso que ele esforçava para manter escondido. "Para o carro já, caralho!"

Michael fez o que eu ordenei e encostou o veículo na berma da estrada, batucando com as suas mãos no volante enquanto me observava de sobrancelha franzida. A única coisa que fiz foi soltar o cinto e abrir a porta apodrecida da lata velha do rapaz, saindo bruscamente do banco poeirento onde o meu rabo se encontrava sentado. Baixei o meu corpo e arregalei os olhos com espanto, ao observar-me através do espelho retrovisor do carro.

Os fios húmidos do meu cabelo encontravam-se pastosos e com um tom azul petróleo, refletido pelos raios solares. As raízes continuavam da cor acastanhada que eu costumava adorar, porém, o meu cabelo tinha sido arruinado por uma tinta barata e mal aplicada que o transformou no pior pesadelo de uma rapariga.

Choraminguei contra o meu reflexo e amaldiçoei Michael e a sua ideia totalmente absurda para estragar o meu dia. Este, assim que reparou no meu estado lastimável, dignou-se a sair do veículo, apoiando os seus braços no teto do automóvel vermelho.

"O meu cabelo está azul...", murmurei, encarando o chão debaixo dos meus pés. Virei costas ao rapaz e inalei uma grande porção de ar. "O meu cabelo está azul..."

Ouvi os seus passos na terra batida. "Não te-" Interrompi o seu discurso da treta e voltei a virar-me, mostrando-lhe a minha pior cara de zangada. Michael deu dois passos para trás e cerrou as sobrancelhas à medida que eu caminhava na sua direção.

"Michael Gordon Clifford, que merda andaste a pôr no meu cabelo!?" Interroguei, com raiva e indignação bem presentes no meu tom de voz. "TU PASSASTE-TE DA CABEÇA!?"

Ele ergueu as mãos, como se, por obra do espirito santo, aquilo o ajudasse a defender-se. "Foi só uma brincadeira, Cloe. Não me mates."

"NÃO TE MATO!?" Arregalei os olhos. "EU FAZIA BEM PIOR QUE ISSO!"

"Vá lá, não ficou assim tão mau. Essa cor combina com os teus olhos..." Michael riu nervosamente, olhando em todas as direções. "Com algumas lavagens isso sai."

"E O QUE ACHAS DE EU TE RAPAR O CABELO!?" Apontei um dedo na sua cara, enfatizando todos os meus vocábulos. Michael, ao ouvir a minha ideia, arregalou os olhos, como se estivesse receoso que isso acontecesse mesmo. "DAQUI A ALGUNS ANOS TAMBÉM CRESCE!"

"Cloe." O rapaz agarrou abruptamente nos meus braços, puxando-me contra o seu corpo. Senti o meu peito ser esmagado contra o seu e acabei por me deixar ficar calada. Tentei evitar cruzar os meus olhos com os seus e, com um pequeno suspiro, encarei o tecido preto da sua t-shirt. "Não exageres. Esse cabelo é muito punk rock e eu gosto assim."

Engoli em seco e mordi o lábio, pouco certa daquilo que poderia usar para argumentar contra ele. Não me agradava totalmente a ideia de Michael gostar de algo em mim, especificamente no meu corpo, e, muito menos, tê-lo tão perto. A verdade é que conseguia sentir a sua respiração na minha testa, e isso, caros amigos, estava a perturbar-me.

"Larga-me!" Soltei-me do seu aperto e choquei o meu ombro contra o seu, abrindo a porta do carro e voltando a entrar lá para dentro. O meu coração havia acelerado astronomicamente com aquilo que se havia passado entre nós mas, por muito que a ideia de ter o seu rosto tão perto do meu não me saísse da cabeça, preferia pensar nas mil e uma maneiras de me vingar dele.

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