44| A festa depois da festa

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Podia jurar que o meu corpo tinha sido engolido por uma baleia e mastigado até mais não, até restar apenas este odor pútrido e esta dor descomunal que me assolava todos os músculos, desde os dedos dos pés até à ponta dos cabelos. Ao abrir os olhos, estremeci com a luminosidade e tossi ruidosamente, precisando urgentemente de beber um copo de água que pudesse terminar com esta irritação na minha garganta, que tão violentada tinha sido durante a noite. O álcool, a música, o frio, o calor. Tinha tudo passado tão rápido por mim que eu nem lembrava de como tinha acabado aquela noite frenética, cheia de drama à mistura. A única coisa que me lembro foi de Luke nos ter arrastado de novo até ao interior daquele bar maravilhoso e de termos escutado um concerto alucinante, cheio de rapazes em tronco nu e de danças arriscadas em cima do balcão. Infelizmente, e com muito arrependimento meu, eu tinha fornecido a todo um grupo de jovens um espetáculo alternativo em cima do palco, rebolando e rindo como uma maluca, sendo influenciada pelo som daquelas melodias alucinogénias e das bebidas que me aqueceram o corpo.

Soltei um grunhido e ergui o tronco, deparando-me com três corpos espalhados pela divisão. Reconheci imediatamente o cabelo azul de Michael, e averiguei se ele respirava, caso contrário poderia estar morto e isso significaria problemas. Está vivo e ressona. Um pouco mais longe estava Miranda, enrolada num monte de cobertores com uma forma estranha. Só depois de alguns segundos a observar é que vi um tufo de cabelo loiro a sair de debaixo daqueles tecidos fofos, constatando que a loira e o loiro se encontravam aninhados um no outro, ou, tecnicamente, nos cobertores. Vá-se lá saber o que andámos a fazer durante a noite.

Depois de uns minutos ali parada, decidi que o melhor seria levantar-me e descobrir se havia mais alguma alma desperta. Ergui o meu corpo peganhento do chão alcatifado e fiz uma careta, reparando nas nódoas espalhadas pelo meu vestido. Bufei em descontentamento e tentei apenas ignorar o estado deplorável em que me encontrava, notando no rosto de Michael alguns salpicos de tinta. Enrolei o meu cabelo crespo sobre o ombro direito e levantei-me, observando a sala de estar. Aquele lugar era-me completamente estranho, e eu não fazia ideia de como havia ido ali parar. A decoração era muito simples e eu podia apostar que a pessoa que ali vivia não seria, de todo, multimilionária ou algo que se parecesse. As paredes brancas despidas tornavam o espaço maior e ajudavam a que os raios de sol provenientes da janela se infiltrassem melhor; a única cómoda existente possuía uma velha televisão e uma centena de livros antigos, que me faziam roer de inveja, e, os dois sofás onde Michael, Miranda e Luke dormiam, pareciam ter sido usados por um monte de cães selvagens. Caminhei vagarosamente até ao corredor amplo e espreitei por todas as portas, encontrando uma casa silenciosa e ligeiramente perturbadora. Tudo parecia fora do sítio, como se um vândalo por ali tivesse passado.

Avistei Nia dentro da banheira da casa de banho, adormecida com uma garrafa de álcool entre as mãos. Ela parecia pacífica, apesar da evidente posição desconfortável em que se encontrava. No seu rosto repousavam uns óculos de massa, e o seu cabelo castanho encontrava-se desgrenhado, tapando-lhe metade do rosto. Acabei por revirar os olhos e seguir o meu trajeto até à cozinha, ignorando-a por completo. Dois rapazes adormecidos encontravam-se deitados em cima da mesa de jantar, e um deles carregava nos ombros aquilo que me parecia ser a capa do super-homem. Não reconhecia nenhum deles, mas provavelmente tivera a oportunidade de o fazer na noite anterior.

"Bom dia." Fui completamente apanhada de susto quando um rapaz totalmente nu, dos pés à cabeça, me apareceu à frente. Ele possuía um bronze invejável e algumas tatuagens espalhadas pelo corpo, contudo, o meu olhar desceu até ao seu maior atributo, que me deixou à beira de um colapso. Engoli em seco e tentei manter os meus olhos fixos no seu rosto, que continha um sorriso matreiro e uns olhos provocadores. Para chinês até nem está nada mal.

"Bom... bom dia.", respondi, tentando forçar um sorriso. Quando o fiz, voltei a pregar o meu olhar à sua joia da coroa, deixando escapar um risinho nervoso. O rapaz riu-se maliciosamente e retirou um cigarro do maço que trazia na mão. Encaminhou-se até ao fogão, acendeu um dos bicos e inclinou-se sobre este, dando lume à droga que tinha entredentes. Digamos que, no espaço de cinco segundos, consegui ter uma visão bem privilegiada do seu traseiro atraente.

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now