48| Despedidas

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As coisas pareciam suspensas, como quando alguém sopra um dente de leão e ficam a pairar no ar aquelas coisinhas brancas que toda a gente diz ser algodão e que eu desconfio tratar-se de uma droga psicadélica qualquer. Durante uma semana, o tópico principal das nossas conversas foi O Namoro da Cloe e do Michael. Não se falava de outra coisa, chegando a ser irritante ao ponto de eu querer desaparecer do meu próprio corpo e fingir ser outra pessoa (talvez Luke, quem sabe). Nem mesmo Rena e Casey, outro casal maravilha no nosso seio de amigos, fazia furor aos olhos de Nia, a grande impulsionadora das longas conversas acerca da minha relação com Michael. Ela sempre me pareceu boa rapariga, mas com o passar do tempo cheguei à conclusão que se tornava repetitiva e demasiado apaixonada pelas mais pequenas coisas, fazendo festas por tudo e por nada. Era engraçada na maior parte das vezes, mas se convivêssemos mais de três horas por dia com ela, chegávamos a casa com uma dor de cabeça maior que o dobro da altura do Luke.

Era porém engraçado ver como os nossos amigos apoiavam a nossa relação e nos elogiavam sempre que trocávamos uma caricia em público ou nos dirigíamos um ao outro com um nome mais piroso. Até em casa as coisas se começaram a tornar normais. Eu passei a dormir sozinha na cama do sótão e Michael ofereceu-se para pernoitar no sofá, cumprindo então as ordens de Elsa, que abominava a ideia de nos ver a dormir juntos. Porém, e cedendo ao espirito rebelde e livre da minha pessoa, eu quase sempre me escapulia para junto dele, aproveitando as horas de maior silêncio para me perder no seu corpo ou trocar uma quantas palavras incoerentes e ensonadas com ele. Na maioria das vezes, quando Karen nos encontrava juntos na manhã seguinte, ria-se como uma adolescente e virava costas, lançando pelo ar alguns comentários engraçados. Ela começou então a tornar-se na nossa maior cúmplice, e, com o passar dos dias, deixámos de ouvir os comentários duvidosos de Elsa, graças a Karen e às suas lavagens cerebrais, que amenizaram a raiva da minha progenitora e a permitiu olhar-nos com bons olhos. Já Richard, que anunciara o seu regresso a Nova Zelândia dentro de um mês, começava a entrar subtilmente na minha vida e a conseguir desenvolver uma conversa minimamente civilizada comigo. Acredito que o meu coração amolecido por Michael lhe tenha facilitado a tarefa, mas nunca consegui realmente esquecer as suas palavras duras no dia em que tivemos aquela discussão feia. No fundo eu sabia que não o podia odiar para sempre, e, para o bem e para o mal, ele é meu pai e se não fosse ele eu provavelmente não estaria aqui hoje para contar a história.

"Tudo acaba bem quando está bem.", Luke murmurou, fechando o livro grosso que trazia nas mãos. Ele sentou-se ao nosso lado no sofá, entre os nossos corpos, e aninhou-se no meu ombro, tal e qual como fizera na noite do pinguim assassinado e da festa do pijama. Talvez ele ainda continuasse a querer um tutu.

"Sabes, eu acho que é: tudo está bem quando acaba bem.", corrigi, continuando a apertar a mão de Michael, acima da cabeça do loiro. Este suspirou, pousando as suas pernas em cima das do moreno.

"Isso interessa?", ele levantou as sobrancelhas. "Eu faço as frases como eu quero. Deixa de ser tão rude, Cloe."

"Wow, estou aqui a sentir alguma tensão?", Michael riu-se, brincando com os atacadores dos ténis de Luke. "O que é que se passa, amiguinho? Estás no período menstrual?"

"Não.", o loiro respondeu, escondendo a cara na curva do meu pescoço. Ele parecia uma criança envergonhada, e não deixava de ser engraçado, porém, tudo o que eu podia fazer era mexer-lhe no cabelo e tentar esconder o sorriso, mostrando-me séria e preocupada. "Eu vou contar-vos um segredo, mas vocês têm de prometer que não contam a ninguém. A NINGUÉM!"

"Nós prometemos.", respondi, lançando um olhar confuso ao meu namorado, que parecia meio adormecido. Michael refletiu durante uns segundos e balançou a cabeça, concordando com a exigência do seu melhor amigo.

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now