12| Teatrinhos foleiros

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Estava admirada com o facto de ter conseguido passar uma tarde inteira com Michael. Ele cozinhou para mim, manteve-se em silêncio a maior parte do tempo e deixou-me usar o seu portátil, o qual eu quase abracei assim que vi. Na verdade, ainda continuava à espera que uma desgraça acontecesse porque, comigo por perto, é impossível manter a normalidade. Controla lá o teu alter-ego, Cloe.

"Que horas serão agora em Londres?", Indaguei, perdida nos inúmeros posts feitos nas redes sociais pelos meus amigos.

"Deve ser tarde.", Michael murmurou, parecendo realmente concentrado no que estava a fazer. Ergui os olhos do ecrã do portátil e observei-o de sobrancelhas arqueadas. Ele encontrava-se sentado na poltrona ao lado do meu sofá, com as pernas estendidas em cima do braço deste, olhando fixamente para o seu telemóvel topo de gama. Sou tão pobre comparada com este animal.

"Estás a falar com a... como é que ela se chamava?", Estalei os dedos, na esperança de que uma iluminação divina se apoderasse do meu cérebro, ativando a minha memória. Okay pronto. Estou a brincar, eu sei como ela se chama.

"Abigail."

"Claro! Abigail!", Bati com a mão na testa, soltando um som equivalente ao de uma baleia engasgada. "Como é que eu me pude esquecer?" Recompus-me, encerrando sessão nas redes socias, querendo manter-me atenta a esta conversa. Esbocei um ligeiro sorriso e abri o paint, fingindo-me muito concentrada. "Então, ela não tem nada que fazer?"

"Eu é que não tinha nada que fazer...", Michael murmurou, mirando fixamente o pequeno ecrã. Revirei os olhos e comecei a realizar a minha obra de arte virtual, enchendo a tela de rabiscos vermelhos. É a representação do sangue que vai verter das minhas veias daqui a nada.

"Oh, e por isso meteste conversa com ela.", Um sorriso irónico curvou-se nos meus lábios. "Que amoroso."

"Ela está na praia.", Michael olhou finalmente para mim, parecendo realmente chocado com o que acabara de dizer. Ergui as sobrancelhas e encolhi os ombros, trocando de pincel. "E nós aqui enfiados!"

"Bem, nós poderíamos ter saído mas eu não conduzo e tu não tomaste a iniciativa de me levar a algum lado.", Afirmei, de cabeça erguida, discursando tão solenemente como um político em campanha eleitoral. Michael limitou-se a baixar a cabeça, prosseguindo a maratona de mensagens. E após alguns segundos, ouvi uma porta a bater, misturada com vozes femininas.

"Oh, já não estamos sozinhos...", murmurei, de dentes cerrados, olhando à minha volta. Fechei a tampa do portátil e respirei fundo, preparada para me esconder atrás da cortina.

"Por amor de Deus, não comeces a chorar outra vez.", Michael pediu, olhando-me de nariz franzido. "Se ela começar a gritar contigo eu digo-lhe que os vizinhos têm caçadeiras."

"Michael! Cloe!", Karen chamou, do corredor. Fechei os olhos e tapei a cara com uma almofada, esperando que Elsa desse sinais de vida. "Venham à cozinha!"

"Oh caraças, isto não é bom sinal!", Exclamei, com os nervos ao rubro. Michael soltou um suspiro e levantou-se, esperando que eu fizesse o mesmo. Engoli em seco e respirei fundo, dizendo mentalmente às minhas pernas para pararem de tremer.

Depois de finalmente me levantar, ambos caminhámos até à cozinha, ouvindo os murmúrios das duas mulheres, que pareciam até falar animadamente entre si. Michael foi o primeiro a entrar na cozinha, apalpando terreno antes de eu me mostrar ao mundo e lidar com as consequências dos meus atos.

"Olá queridos.", Karen cumprimentou, sorridente, puxando o seu filho para um abraço e plantando vários beijos na sua bochecha pálida. Permaneci quietamente atrás dele, assistindo em silêncio à demonstração de carinho entre mãe e filho. Quando Michael conseguiu afastar-se da sua progenitora, foi a minha vez de receber um abraço carinhoso da loira. "Espero que hoje te tenhas portado bem, Cloe.", A mulher soltou uma pequena risada, afagando os meus cabelos.

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now