19| Atração aos cabelos e atos impulsivos

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Abri os olhos e soltei um grunhido, sentindo dores percorrerem o meu corpo. Quando olhei à minha volta franzi o nariz, encontrando a casa de banho na mesma confusão em que a tinha deixado na noite anterior. Abracei o meu corpo e respirei fundo, percebendo que a única coisa que me cobria era uma toalha cheia de tinta azul – que provavelmente escorrera do meu cabelo quando tomei banho. Não me lembrava de ter adormecido naquele lugar, porém, também não me lembrava de ter abandonado aquela divisão. Mas a verdade é que eu me encontrava ali, dentro da banheira, com os joelhos fletidos até ao peito e os meus braços em volta destes. Tudo me doía.

Com cuidado para não escorregar tentei pôr-me em pé, agarrando-me à parede cheia de azulejos azuis. Os meus pés ameaçaram derrapar na superfície lisa e húmida da banheira, contudo, com um ágil movimento, saltei para o chão antes que acabasse por bater com o nariz nalgum lugar indesejado.

A minha garganta pedia por água e a minha barriga não parava de roncar. Só queria vestir algo confortável e inserir algum alimento no meu estômago, sair dali e ver a luz do sol. Devo ter ficado fechada nesta casa de banho durante toda a noite, com medo de enfrentar Michael e, por muito segura que eu estivesse de que aquele beijo fora um erro, não conseguia arranjar coragem para olhar para a sua cara. Por isso, antes de abrir a porta e enfrentar o Diabo, ponderei as minhas opções.

Podia permanecer ali até que alguém desse pela minha falta (algo que eu achava muito improvável, visto que ninguém quer saber realmente de mim); podia escapulir-me até à cozinha, sem ninguém ver, pegar num saco com comida, arranjar algumas roupas e apanhar um comboio para o destino mais longínquo que as minhas finanças pudessem comprar; ou podia simplesmente sair da casa de banho, vestir uma roupa, tomar o pequeno-almoço e fingir que nada aconteceu. Aquele pareceu-me um bom plano.

Com um suspiro rodei a maçaneta, apertando com força a toalha à volta do meu peito. Se ela caísse tornaria a situação mais difícil. Quer dizer, primeiro beija-me e depois vê-me nua. Seria, provavelmente, a causa do meu suicídio prematuro. Portanto, decidi que, pelo bem da humanidade, devia manter aquela toalha presa a mim, custasse o que custasse.

Fui em passinhos de lã até metade do sótão, espreitando para dentro do quarto falso na tentativa de perceber se Michael estaria ou não a dormir. Bem, ele não estava. Tentei virar-lhe costas e desaparecer dali o mais rápido possível, no entanto, Michael cruzou os seus olhos comigo de forma intensa, fazendo-me congelar naquele instante. Ele levantou-se, deixando os CD's que segurava em cima da cama.

"Cloe?" Olhei para o chão, fazendo uma força descomunal com os dedos para manter a toalha colada ao meu corpo. Estava assustada.

"Sou eu.", soltei um riso nervoso, não sendo capaz de pensar em algo mais inteligente para dizer. Não sabia como raio haveria de agir. Não queria passar falsas esperanças ao rapaz e, muito menos, dar a entender que aquele estúpido beijo me tinha afetado. "Como estás?", forcei um sorriso.

"Olá...", ele estreitou as sobrancelhas. "Devia ser eu a perguntar-te isso. Dormiste na casa de banho."

"Oh, pois.", abanei a cabeça. "Estive a tomar banho e adormeci. Nada do outro mundo." Respirei fundo e rodei nos calcanhares, caminhando apressadamente até ao meu querido sofá-de-cabedal-contaminado-pela-pecaminosidade. Sentei-me, puxando as caixas de cartão onde a minha roupa se encontrava arrumada para perto de mim.

"Nós devíamos falar sobr..."

"Não. Não devíamos.", interrompi, levantando a cabeça para o enfrentar. Peguei numa t-shirt branca e pousei-a a meu lado, continuando a encarar Michael, que parecia não ter pregado olho durante a noite. "Vamos esquecer o que aconteceu. Aliás, eu nem sei do que estamos a falar."

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now