09| Argumentos nada argumentativos

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Quando abri os olhos, da forma mais lenta possível, vi que tinha Michael sentado a meu lado, lançando-me um sorriso compreensivo. Desci o meu rosto e aí pude abrir a boca de forma espantada, vendo o tabuleiro com comida que o rapaz mantinha apoiado no seu colo. Sacudi a cabeça e Mike soltou um risinho, continuando a mirar-me fixamente.

"Olá?", Proferi, no tom mais fraco e inaudível que me era permitido fazer. Michael abanou ligeiramente a cabeça, fechando o seu lindo sorriso. Cerrei os olhos, olhando-o com desconfiança. "Qué que tu queres?"

"Vim trazer-te comida.", Ele afirmou, pegando no tabuleiro acastanhado. Fechei os olhos por breves segundos e soltei um suspiro prolongado, tentando esconder a felicidade que ocupava agora todas as partículas do meu frágil corpo. Quando abri novamente os olhos, Michael já tinha pousado o tabuleiro no meu colo, levando-me a concluir que a distância entre os nossos corpos era praticamente escassa e, por muito que eu me sentisse agradada com a ideia de ter Michael a trazer-me comida, isso era algo que não me deixava minimamente feliz.

"Estás demasiado perto.", Expus os meus pensamentos em voz alta, soando mais arrogante do que o pretendido. Ou talvez não. "Deixa-me respirar!"

"Oh, desculpa.", Michael murmurou, afastando-se o máximo que conseguira, indo encostar-se ao para-choques da sua lata velha, ficando de frente para mim. Abanei a cabeça, deixando que o ar acumulado nos meus pulmões escapasse pelos meus lábios gretados. Michael fez o mesmo. "Não vais comer?"

"Ahm...", Prendi o lábio inferior nos meus dentes, observando o prato cheio de massa fumegante que Michael me havia trazido. "Tenho algum medo de morrer envenenada.", Olhei para cima, vislumbrando os olhos verdes do rapaz por quem eu nutria um ódio antigo. "Se bem que, por este andar, esse já nem é o meu maior problema."

"Fui eu que fiz essas massas.", Michael soltou uma gargalhada alta, preenchendo a divisão com a melodia do seu riso. "Achas mesmo que eu te envenenava?"

"Okay, agora é que eu não toco mesmo nisto!", Exclamei, afastando o tabuleiro das minhas coxas. O único problema desta minha birra forçada é que a minha barriga não parava de rosnar por comida e, à medida que eu olhava para aquele prato, o meu estômago dava cabo da minha sanidade. "Ugh, pronto! Eu como!", Peguei no prato e no garfo que o acompanhava, sendo observada atentamente por Michael. Inicialmente comi garfadas pequenas, tentando não mostrar o meu real desejo por comida, mas, depois de alguns segundos, comecei a comer à bruta, enfardando um prato inteiro de massa em menos de três minutos.

"Acabaste?", Michael indagou, cruzando os seus braços pálidos sobre o peito. Um sorriso pretensioso dançava nos seus lábios e dei por mim a pensar no que raio queria ele de mim.

"Eu não sei qual é a tua mas, honestamente, estás a deixar-me perturbada.", Comentei, imitando os seus movimentos. Michael riu-se com o meu comentário e, sem eu estar à espera, deixou a sua cabeça tombar para trás, deixando-me com a visão do seu pescoço curvado. "Okay..."

"Eu tentei convencer a tua a mãe a tirar-te o castigo.", Ele afirmou, falando num tom mais rouco e abafado, continuando a mirar o teto como um anormal. Cerrei os olhos, desconfiada com a súbita simpatia de Michael, lembrando-me que há menos de três horas ele estava a acusar-me de ser uma pobre e mal-agradecida.

"E...?", Arrisquei perguntar, receosa da sua resposta.

"E não deu em nada.", Michael voltou a endireitar a cabeça, abrindo um largo sorriso assim que o nosso olhar se voltou a cruzar inesperadamente. Para ser sincera, começava a ficar seriamente assustada com esta faceta dele. "Tu mereces. Quero dizer, até a mim me culpaste! Não é de admirar que agora o karma te esteja a cair em cima."

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