08| Eu não sou um cão!

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 Quando Michael, o rapaz do cabelo cósmico, voltou a aparecer na sala, mostrando-me uma expressão tensa e pouco convidativa, as minhas pernas pararam de tremer e todo o meu corpo congelou. As minhas mãos, que permaneciam pousadas no meu colo de forma estratégica, haviam começado a produzir grandes percentagens de células sudoríferas, portanto, esfreguei-as desajeitadamente nas minhas calças gastas.

Quando os meus olhos se cruzaram com os de Michael, forcei um sorriso, incentivando-o a falar. Ele apenas mordeu o lábio, encostando-se descontraidamente à soleira da porta.

“Elas chegaram.”, Michael proferiu lentamente, parecendo vagamente assustado com a minha reação. E, honestamente, ele tinha razões para isso. Aquelas duas palavras inofensivas foram o suficiente para que um tornado destruísse toda minha passividade naquele instante. “Estás bem?”

“Ahm…”, Baixei o rosto, conseguindo ouvir perfeitamente as vozes abafadas das duas mulheres que se aproximavam da porta. “Acho que não.”

“Michael!?”, Aquela voz estridente ecoou pela divisão, apanhando-me desprevenida. Levantei o rosto e apertei com força os punhos, sentindo-me vulnerável e medrosa. “Michael! Eu sei que vocês estão aqui!”

“Mãe…”, Ouvi o rapaz murmurar. Fechei os olhos e preparei-me mentalmente para o que se seguiria. Na verdade, não conseguia arranjar uma maneira heroica para enfrentar duas mulheres furiosas e isso começava a preocupar-me. “Olá Elsa.”

“CLOE MARIE!” Quase sem dar conta, Elsa correu como um relâmpago e agarrou fortemente no meu braço, levantando-me do sofá. Quando a encarei, arrependi-me imediatamente de o ter feito, levando com o seu olhar assassino. “QUANDO CHEGÁMOS A CASA A PRIMEIRA COISA QUE VIMOS FORAM O RAIO DOS BOMBEIROS E EU PERGUNTEI «SERÁ QUE A MINHA CLOE ESTÁ BEM?».”, Elsa divagou, exercendo toda a sua força no meu braço. “DEPOIS, QUANDO FALAMOS COM A MULTIDÃO DE PESSOAS QUE LÁ ESTAVA A VER O ESPETÁCULO, ADIVINHA O QUE NOS DISSERAM?”          

“Não sou lá muito boa com adivinhas…”, murmurei, encolhendo-me o mais possível. Elsa cerrou os dentes e arregalou os olhos, começando a ficar com os nós dos seus dedos brancos devido à imensa força que colocava no meu braço.

“NÃO TE ARMES EM ESPERTINHA!”, A minha mãe berrou. Engoli em seco e rodei lentamente a cabeça, observando Karen e Michael, lado a lado, a assistirem em silêncio à minha condenação em praça pública. “Agora…”, a minha progenitora largou finalmente o meu braço, sentando-se confortavelmente no sofá, reprimindo a sua fúria com um suspiro prolongado, “Conta-me o que aconteceu.”

Decidi manter-me em pé, na mesma posição em que havia ficado quando Elsa me agarrou, não fosse preciso eu ter de fugir ou assim. Aclarei a garganta e olhei de esguelha para as duas pessoas que continuavam ali especadas a observarem-nos em silêncio. Enterrei as mãos nos bolsos traseiros das minhas calças de ganga e respirei fundo.

 “Bem…”, iniciei, ouvindo o tom da minha voz trémulo e rouco. Pisquei os olhos várias vezes, não fosse eu começar a chorar, e retomei o meu discurso ensaiado previamente à frente do espelho da casa de banho. “Tu disseste que eu tinha de cozinhar, por isso, decidi fritar uns ovos.” Suspiros impacientes ouviram-se pela sala. “Liguei o lume, parti os ovos e depois disso peguei num pano para limpar as mãos…”, mordisquei nervosamente o lábio, “Acho que, quando lancei o pano de volta para a bancada, ele entrou em contacto com o lume e deu início a um pequeno incêndio…”, Olhei fixamente para o soalho de madeira que cobria o chão da sala de estar de Karen.

“COMO É QUE TU NÃO DESTE CONTA DISSO!?”, Elsa voltou a elevar o seu tom de voz. O seu rosto havia adotado uma cor avermelhada, sinal da sua fúria.

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