05| Não preciso do Michael pra nada!

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Conseguia sentir o cheiro da chuva e conseguia ouvir o barulho dos automóveis e das pessoas a caminhar pelo solo londrino. Apesar de sentir o meu corpo quente, não conseguia deixar de apertar os lençóis contra mim, protegendo-me do frio violento que normalmente sinto. Mas, quando senti pancadas gentis sobre o ombro, soltei um grunhido.

"Cloe, acorda..." Um arrepio foi lançado pelo meu corpo ao sentir aquele sussurro em contacto com a pele sensível da minha orelha. Humedeci os lábios e estiquei o braço, apanhando o telemóvel que estava pousado na mesinha de cabeceira. Abri um olho e suspirei, visivelmente irritada.

"Mãe...", murmurei, voltando a deixar cair o aparelho na superfície de madeira, "São 3 da manhã!", virei-me para o outro lado, voltando a fechar os olhos, "Deixa-me dormir!"

Ouvi uma breve gargalhada e, após alguns segundos, Elsa voltou a tocar no meu ombro, abanando-me desconcertadamente. Apeteceu-me gritar e mandá-la ir à merda mas, sejamos sinceros, se eu fizesse isso à minha própria mãe o mais certo era apanhar uma tareia e ser imediatamente expulsa de casa. Decidi ignorar.

"São duas da tarde, Cloe...", ela avisou. Virei-me de barriga para cima e respirei fundo, percebendo que todas as sensações familiares que eu sentira até à poucos segundos não passavam de memórias. Era óbvio que não estava a chover, e da rua não se ouviam carros nem pessoas, apenas passarinhos a cantar. E também era óbvio que eu não tinha frio, muito pelo contrário. "Credo... vou abrir uma janela.", A minha mãe levantou-se e caminhou até à janela ao fundo da divisão, abrindo-a por completo.

"Não devias estar a trabalhar, ou assim?", Ergui o meu tronco, voltando a pegar no telemóvel. Não possuía qualquer mensagem ou telefonema, o que era normal, visto que em Londres todos os meus amigos estariam a dormir. Ou sabe-se lá a fazer o quê...

"Estou na pausa de almoço.", A minha mãe voltou a sentar-se na cama, ficando a mirar-me fixamente, "Que por acaso está a acabar."

"Então vai embora.", Franzi o nariz, querendo continuar a dormir.

"Assim até parece que me queres ver pelas costas!", Elsa resmungou, abanando a cabeça em desagrado. Sorri em resposta, apanhando o cabelo num rabo-de-cavalo mal feito. "Hey, vais ligar ao Michael para te vir fazer companhia?"

"O quê?", Soltei um riso nervoso, "Ligar ao Michael para quê?", Olhei para os raios solares que saiam pela janela, iluminando o quarto. Estava cada vez mais enojada com a cor das paredes e estava decidida a pintá-las. "Eu tenho imensos amigos, mãe! Não preciso do Michael pra nada!"

"Oh, sim...", ela desmanchou-se em risos. Cruzei os braços sobre o peito e revirei os olhos, não sabendo propriamente como responder áquilo. "Devias ligar-lhe. A não ser que queiras passar o dia todo sozinha."

"Eu não lhe vou ligar!", Insisti em manter a minha posição severa, sendo bombardeada com os risos atrofiados da minha querida progenitora. Encostei-me à cabeceira da cama e mordisquei o lábio, esperando que Elsa se lembrasse que tem um trabalho á sua espera.

"A sério, ele podia levar-te à praia.", Ela continuou a argumentar.

"Mãe, a tua pausa não estava quase a acabar?", Estalei, piscando lentamente os olhos, como se ainda fosse difícil mantê-los abertos devido ao sono. A mulher soltou um suspiro aborrecido e deixou os seus ombros caírem. Ela debruçou-se sobre mim e plantou um demorado beijo na minha bochecha quente.

"Pronto, pronto. Eu vou-me embora!", Ela revirou os olhos, mostrando-me um sorriso enviesado. "Não deixei almoço. Tens de cozinhar!", Ela avisou antes de se levantar, caminhando até á porta. "Não destruas a casa!" E com isto, Elsa saiu do meu quarto. Bufei para o ar e atirei o meu corpo de novo para o colchão, grunhindo de aborrecimento.

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now