25| Crises e risos

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Abri os olhos lentamente, soltando alguns grunhidos durante o processo. Ao meu lado conseguia ouvir roncos e supus serem de Luke, o ascendente a porco. Assim que elevei o meu tronco, espreguicei-me de uma forma dramática, esticando os braços e abrindo a boca. Cocei a cara e soltei um pequeno suspiro, olhando para o meu lado esquerdo. Luke dormia pacificamente, aninhado à almofada. O lençol cobria parte do seu rosto e os seus cabelos loiros encontravam-se despenteados. No entanto, assim que reparei num espaço ao seu lado, estreitei as sobrancelhas, indagando-me onde raio estaria Michael Clifford, o senhor cabeça de petróleo.

Levantei-me desajeitadamente da cama e cumprimentei Leo, que se pavoneava no seu aquário de vidro, à sombra de uma palmeira artificial. Se eu pudesse escolher entre ser a Cloe ou entre ser uma tartaruga, eu provavelmente escolheria a segunda opção. Leo é alimentado regularmente, passa a vida a nadar na sua piscina, apanha banhos de sol e é acarinhado por todas as pessoas que frequentam o quarto imundo do seu dono desmazelado. À exceção de mim, claro.

Parei de caminhar quando ouvi um som estranho vindo do sofá de cabedal. Foquei as atenções na minha cama improvisada e cambaleei até lá, debruçando-me para analisar o local de repouso. Havia um monte de roupa escura a um canto e percebi que aqueles trapos pertenciam a Luke, no entanto, algo vindo de lá estava a vibrar e a reproduzir uma música estranha.

"A freight train to the right/ feeling that sting of pride." Cocei o queixo e lancei um último olhar ao quarto falso, na esperança de que Luke acordasse e me viesse ajudar a lidar com o facto de a sua roupa estar a produzir sons. "It's fucking with me, it's fucking with you/ All's fair in love and war."

Acabei por suspirar, farta daquela música. Atirei a t-shirt preta para um canto e as skinny jeans rasgadas para outro, e sentei-me na ponta do sofá, pegando no telemóvel pertencente ao loirinho atraente. Sem pensar duas vezes, atendi a chamada, pousando os meus pés na mesa de centro.

"Estou?"

"O Luke ainda está a dormir?", a pessoa do outro lado da linha questionou. Era uma voz masculina grave e muito familiar, todavia, não me dei ao trabalho de associar a voz a uma cara e preferi manter-me na ignorância. Estava cansada e ainda agora tinha acordado, por isso o melhor seria mesmo nem tentar perceber com quem estava a falar.

"Sim. Ele só ressona e daqui a nada estou capaz de lhe atirar com um balde de água para cima. Mas isso não é da sua importância." Sorri sarcasticamente, abananando os pés à medida que a minha paciência se esgotava.

"Não ficava admirado se isso acontecesse.", a voz sedutora riu-se e senti um calafrio na espinha. Abanei a cabeça e suspirei, continuando a fitar o quarto falso, onde Luke dormia pacificamente. "Eu acabei de ver a Liz passar de carro por isso, de qualquer forma, acorda-o."

"Quem é a Liz?"

"A mãe do Luke.", ouvi um suspiro e percebi que quem estava a conversar comigo era Michael. És tão esperta, Cloe.

"Espera.", semicerrei os olhos, fitando a porta da casa de banho. "Tu não estavas a arriar o calhau?"

"Arriar o calhau?", Mike soltou uma gargalhada, parecendo confuso.

"Sim!", guinchei, "A fazer cocó!"

"Oh meu deus...", o rapaz arquejou, parando de rir. Quando a linha ficou silenciosa comecei a cantarolar a música do toque do telefone de Luke, entretendo-me. "Desde quando é que tu ouves Blink-182?"

"Desde hoje.", sorri largamente, lembrando-me que ainda não sabia qual o paradeiro do meu colega de quarto. "Mas afinal onde é que tu estás?"

"Tive de sair para tratar de umas coisas.", Mike proferiu, num tom brando. Quase podia apostar que ele estava a sorrir. "Não te preocupes, dentro de cinco minutos estou aí."

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now