50| O fim

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Afinal havia motivos para chorar, afinal a minha atitude foi errada, afinal eu cometi um erro, e afinal eu não podia estar mais arrependida. Depois de uma pequena reunião com o diretor da escola e de lhe explicar o sucedido, começando pela minha chegada a Austrália e terminando no ódio nutrido a Abigail, que consequentemente causou a violenta agressão, o homem telefonou a Elsa e mandou-me esperar. Michael também tinha sido submetido a um grave sermão, visto que a sua linguagem pouco correta e os seus modos aquando da sua discussão comigo não favoreceram em nada a sua situação. Mais tarde, quando já Elsa se encontrava fechada no gabinete e Michael me segurava na mão, eu percebi que aquele tinha sido o ponto final na atribuição de oportunidades. Elsa não voltaria a perdoar-me, e muito menos seria complacente. Vim a comprová-lo umas horas mais tarde, quando me disseram que eu tinha sido suspensa do liceu por ter agredido uma colega e quando Elsa depositou em mim o maior sermão das nossas vidas.

Nunca tinha chorado tanto como naquela noite. Enrolada nos lençóis frescos da cama de Michael, os meus olhos vertiam as mais salgadas lágrimas, e o meu corpo contorcia-se. O rapaz de olhos verdes fazia pequenas festinhas no meu cabelo, e acariciava-me a pele, mas isso não foi suficiente para apagar da minha cabeça as palavras duras de Elsa e o seu olhar de desespero e desilusão. Ela já não sabia o que fazer comigo, e, por mais inocente que eu pudesse ser no meio de todas estas situações, compreendia que também não era fácil para ela lidar com estes problemas e confusões que eu constantemente criava. Por outro lado, não conseguia entender o porquê de ela ser tão severa. Eu sabia do seu passado, e sabia que Elsa também não fora nenhuma santa quando tinha a minha idade. Isso revoltava-me, mas não havia nada que eu pudesse fazer.

A maior bomba chegou, porém, quando Karen entrou sorrateiramente no quarto e se sentou na cama, junto de mim e de Michael. Ela afagou-me os cabelos e sussurrou algo impercetível ao seu filho, que, em consequência das palavras doces da mãe, nos deixou sozinhas. Eu sabia que Karen também desaprovava o meu comportamento, mas ela sempre conseguiu ser mais compreensiva.

"A tua mãe acabou de falar com o Richard.", disse-me ela, tentando não elevar muito o seu tom de voz. Os meus olhos automaticamente se fecharam, reagindo com amargura àquele nome. "Eles tomaram uma decisão em relação a ti, Cloe."

"Karen...", ergui-me com fraqueza, fitando-a com os meus olhos inchados e repletos de lágrimas. Não queria ouvir nada do que ela me pudesse dizer acerca dos meus pais, e preferia só saber do meu castigo quando chegasse a altura de o cumprir, no entanto, e pela expressão impressa no rosto de Karen, percebia que algo de muito intenso lhe iria sair da boca, e ela não o tencionava guardar até que eu me sentisse apta a ouvir.

"Cloe, isto é importante.", ela agarrou-me na mão, traçando suaves círculos na minha pele macia.

"Por favor...", implorei, "Eu sinto a minha cabeça a explodir." Nesse momento ouviu-se um estrondo vindo do andar de baixo, e tanto eu como Karen franzimos as sobrancelhas.

"NÃO! NÃO!", ouvimos Michael gritar. Ele parecia furioso, e eu apenas me indagava porquê. Talvez tivesse a ver com aquilo que Karen me quisesse dizer, ou talvez fosse apenas algo que Elsa lhe tivesse dito. No entanto, sabia que mais tarde ou mais cedo viria a descobrir o que estava a acontecer, e limitei-me a suspirar, caindo de novo em cima dos lençóis. Uma lágrima grossa pincelou a minha bochecha, e eu gemi com tristeza, sendo acariciada por Karen. "CLOE!", Michael apareceu-me à frente segundos depois, apresentando uma cor avermelhada na face.

"Michael...", proferi, observando-o com cautela. Ele parecia um maluco, a abrir gavetas e a atirar roupa para cima da cama, enquanto ignorava os meus olhares pesarosos e os pedidos de Karen. "Michael... Michael o que é que aconteceu?", questionei, limpando o rosto.

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now