03| Conversas Indecentes

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Apanhei o meu cabelo num rabo-de-cavalo desajeitado e esfreguei o braço assim que pus um pé dentro de casa, inalando uma quantidade considerável de ar. Michael continuava atrás de mim, seguindo cada um dos meus movimentos, irritando-me ligeiramente. Humedeci os meus lábios secos pelo sol e aclarei a garganta, sentindo um cansaço extremo apoderar-se do meu corpo.

"Mãe!?", Chamei, erguendo a cabeça no ar, esperando algum sinal de Elsa. Adentrei pela sala e reparei que esta já se encontrava arrumada, sem vestígios de ferramentas ou caixas pelo chão.

"Oh, já voltaram.", A mulher de olhos claros apareceu discretamente na divisão, limpando as mãos ao avental verde que envergava. Ela caminhou até mim e farejou por uns segundos, examinando-me com atenção. "Não demoraram. Aconteceu alguma coisa?"

"Claro. Tem de acontecer sempre algo, não é?", Sorri com sarcasmo, lançando um olhar sugestivo a Michael. Este riu-se, enterrando as mãos nos bolsos das suas jeans. "Fui expulsa do supermercado. Nada demais.", Acabei por confessar, falando num tom monótono e descontraído, batendo com os pés sobre o soalho de madeira.

"O quê?", A minha mãe arregalou os olhos, expressando o seu desagrado quanto à minha confissão. Ela olhou para Michael e pousou as mãos na cintura, ficando rígida naquela posição, "É o nosso primeiro dia aqui e tu já és expulsa de supermercados!?"

"Pois, eu sei...", franzi o nariz, acabando por soltar um suspiro aborrecido, "Nunca devíamos ter saído daquele hotel, mãe. As pessoas cá fora são tão selvagens! Acreditas que me agarraram!?", Divaguei, indignada.

"Elsa, tenha calma...", ouvi a voz grossa de Michael, levando-me subitamente a pousar os olhos nele, cerrando-os com desagrado. Porque raio é que ele ainda aqui está?

"Michael, esta miúda só atrai problemas!", Elsa gritou, ficando vermelha de raiva, "Que vergonha...", ela murmurou, escondendo a cara entre as mãos, acalmando-se subitamente, "Eu nem quero pensar na vergonha que tu passaste, Michael."

"Na vergonha que ele passou!?", Berrei, sentindo-me injustiçada por ninguém, absolutamente ninguém, considerar sequer a hipótese de este rapaz também ter culpa no cartório. "Porque é que todos acham que ele é um santo!? Mãe, foi ele que começou! A culpa é dele!", Apontei um dedo ao rapaz, tentando demonstrar o meu verdadeiro desespero.

"Cloe, chega!", Elsa ordenou, respirando fundo, virando nos calcanhares e rogando pragas para o ar.

Abri a minha boca em choque e soltei um guincho agudo, irritada. Abanei a cabeça com desdém e olhei para Michael, que continuava em silêncio, parecendo divertido com a situação. "Oh, e tu nem penses que eu vou ser tua amiga ou lá o que pensas que nós vamos ser!", Atirei, começando a sentir uma rouquidão no fundo da minha garganta, "Eu odeio-te!"

Rodei o meu corpo e agarrei-me ao corrimão, começando por subir alguns degraus. "Passa para cá o gelado!", Virei-me subitamente, gritando ao rapaz de cabelo azul. Michael revirou os olhos e sorriu discretamente, acabando finalmente por se debruçar sobre os variados sacos de compras, retirando de um deles a embalagem de gelado. "É bom que tenhas escolhido um sabor decente ou então eu estrangulo-te!"'

"Não sejas assim...", ele retorquiu, atirando-me a embalagem. Apanhei-a com dificuldade, sentindo imediatamente o gelo a derreter-se sobre a minha pele.

"Vai te foder!", Exclamei, voltando a fazer o meu percurso pelas escadas acima, tentando encontrar o meu antigo quarto. Quando finalmente me vi sozinha no corredor, soltei um breve suspiro, cansada da viagem e de tudo o que tinha acontecido até ao momento.

Coloquei a gélida embalagem debaixo do braço e olhei à minha volta, reconhecendo perfeitamente aquele ambiente. Não demorei a rodar a maçaneta da porta ao fundo do corredor, dando de caras com um enorme aglomerado de cor-de-rosa.

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