10| Filme de terror e bipolaridade

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Abri os olhos quando a claridade se tornou um problema. Inspirei profundamente e, de seguida, expirei todo o ar que tinha nos meus pulmões, erguendo o meu tronco com preguiça. Encontrei a sala vazia, as cortinas abertas e um bilhete em cima da mesa de centro. Quando me estiquei para poder pegar nele, senti todos os ossinhos do meu corpo a estalarem.

«Espero que tenhas pensado bem no que fizeste e que isso esteja agora a pesar-te na consciência. Ainda assim, és minha filha e eu amo-te (por muito que esteja zangada contigo). De qualquer forma, achei melhor avisar-te que vou a casa ver os teus estragos e perceber se se conseguiu salvar alguma coisa.

Por favor, não cometas mais nenhum disparate,

Elsa x»

Comprimi os lábios e cerrei os punhos com força, voltando a pousar a pequena folha amarela na superfície de madeira. Quando voltei a olhar à minha volta é que me dei conta do quão assustada me encontrava. O choque abateu-se sobre mim em forma de lágrimas e, mesmo que eu quisesse parar de chorar, não conseguia.

"Bom dia, alegria!", A voz indescritível de Michael chegou-me aos ouvidos. Não me mexi. Apoiei-me nas palmas das mãos e baixei a cabeça, deixando o meu corpo continuar embrenhado no lençol de linho. Funguei e solucei em silêncio, deixando as lágrimas continuarem a descer dos meus olhos. "Hey, Cloe!"

Os seus passos tornaram-se mais altos e rápidos e, quando dei por isso, Michael já se encontrava agachado à minha frente. Ele começou por afastar o cabelo do meu rosto, tentando espreitar pelo espaço que eu havia deixado. Abanei negativamente a cabeça, tentando arranjar uma maneira qualquer de lhe dizer que estava tudo bem e que ele podia voltar à sua vidinha. Ao que parece, não resultou.

"Cloe, então?", Michael afagou os meus cabelos, falando num tom suave. Para dizer a verdade, a maneira como ele estava a agir comigo ainda me dava mais vontade de chorar do que tudo o resto. "Então?"

"EN-ENTÃO O QUÊ!?", Berrei, tentando soar minimamente feroz. Isso não resultou, sendo que eu não conseguia parar de soluçar devido às lágrimas compulsivas que teimavam em obstruir-me a respiração. "DEIXA-ME!"

"Tu não paras de chorar...", Michael constatou o óbvio e, se eu não estivesse tão ocupada a verter água salgada dos meus olhos, tê-los-ia revirado e soltado uma piadinha irónica. Michael agarrou no meu braço. "Estás assim porquê? A tua mãe não te vai odiar para sempre, Cloe."

"EU DESTRUÍ A NOSSA CASA!", Lamuriei-me. É óbvio que eu estava muito sensibilizada com tudo isto porque, se fosse de outra maneira, eu não estaria a deixar Mike tocar-me e nem sequer estaria a colocar-me vulnerável à sua frente. O que o desespero nos faz... "E-E OS MEUS LIVROS ARDERAM! O QUE É QUE EU VOU FAZER À MINHA VIDA, MICHAEL!?"

"Ugh.", Foi a única coisa que ouvi sair da sua boca. Suspirei tremulamente e mantive-me em silêncio, não fosse a minha boca abrir-se para dizer algo inconveniente e que o rapaz do cabelo arroxeado pudesse não querer ouvir.

Com as costas da mão, limpei as lágrimas que haviam ficado plantadas pelo meu rosto e, depois de fungar profundamente, elevei a cabeça, colocando o cabelo sobre um dos meus ombros. Michael observava-me atentamente e, quando lhe fiz um gesto para se afastar, vi uma careta atravessar-lhe a expressão.

"Posso ir tomar banho?", Arranjei coragem para perguntar, levantando-me do sofá. Michael correu os olhos pelo meu corpo e senti-me novamente desconfortável. Acabei por me virar de costas, evitando que ele mirasse o meu rosto. "Preciso mesmo."

"Claro.", Ele finalmente respondeu.

"Okay, fixe." Saí da sala num passo rápido, querendo voltar a ser a Cloe que não chora à frente de pessoas e que não tem problemas em dizer aquilo que lhe vai na cabeça. Subi as escadas e entrei naquele que supostamente é o quarto do Michael - ou pelo menos era, há seis anos.

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now