28| Situação fodidamente complicada

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O som da água a bater na superfície da banheira estalava nos meus ouvidos, provocando caretas animalescas na minha face roborizada. A frescura do líquido que corria através do chuveiro era o suficiente para acalmar o estado de ebulição em que o meu corpo se encontrava, no entanto, não era um simples banho que iria resolver os meus problemas. Quando eu abandonasse esta minúscula casa de banho o pequeno período de paz chegaria ao fim e o drama instalar-se-ia novamente, por isso, suspirei, começando desde já a preparar-me para a conversa. Se houvesse palavras que descrevessem a minha situação, então seriam fodidamente complicada.

Quando apertei o fio elástico das minhas calças desportivas, dando por concluída a tarefa de cobrir o meu corpo com tecido confortável, abri a porta de madeira e soltei um suspiro profundo. Apesar de tudo, estava eternamente agradecida por Michael não se encontrar em casa. Se tivesse de lidar com a sua presença, depois de tudo o que já aconteceu, provavelmente acabaria por ter um esgotamento nervoso, acabando mesmo por dar corda aos sapatos e fugir desta casa de malucos. Daria uma excelente vagabunda. Calcei umas pantufas (que na verdade não se adequavam minimamente ao calor infernal que se encontrava nesta altura do ano), prendi o meu cabelo roxo com um elástico e, finalmente, ganhei coragem para descer as escadas. O silêncio era horripilante.

"Mãe?", chamei, engasgada devido ao nervosismo. Acabei por ficar parada à frente da porta do seu quarto, debatendo-me mentalmente se deveria ou não bater. Antes que pudesse tomar uma decisão, a porta abriu-se, revelando uma mulher de olheiras, com os dedos pressionados na têmporas, a olhar-me com cara de poucos amigos.

"Entra.", ela disse calmamente, cedendo passagem para o antigo quarto de Michael. Lembrava-me muito bem das tardes que passava naquela divisão, a estudar com o moreno, enquanto este se sentava no parapeito da janela, a ouvir música nos seus auscultadores. Repreendia-o sempre por se sentar num lugar tão perigoso, no entanto, Michael gostava de o fazer, deixando a cama toda para mim. Velhos tempos... "Espero que já estejas sóbria."

"Só me sinto um pouco zonza.", confessei, escondendo as mãos atrás das costas. Elsa sentou-se na ponta da cama, baixando o rosto com evidente descontentamento. "Eu lamento muito, está bem? Eu não pensei no que estava a fazer e..."

"Pois, o problema é exatamente esse!", a sua voz subiu algumas oitavas. O meu corpo estremeceu. "Tu nunca pensas no que estás a fazer!" Respirei fundo, sentindo um ligeiro zumbido nos ouvidos. A minha cabeça latejava e tudo o que eu queria fazer era dormir. Dormir e chorar.

"Eu peço desculpa.", balbuciei, num fiozinho de voz. Elsa fitou-me severamente, como se nada do que eu dissesse pudesse remediar os últimos erros que eu cometera.

"Eu não estou zangada contigo.", a mulher afirmou, deixando-me ainda mais confusa. "Mas começo a ficar um pouco farta.", abanou a cabeça, levantando-se para me olhar nos olhos. "Eu perdoei-te em relação ao incêndio e voltaria a fazê-lo, no entanto, tu estás a abusar da minha paciência. O que é que se anda a passar entre ti e o Michael?!"

"Eu... ahm...", baixei o rosto, sentindo vergonha a irradiar pelo meu corpo débil. Soltei um pequeno suspiro e, adquirindo uma força sobrenatural que surpreendentemente me veio salvar, abri a boca e sorri maliciosamente. "O Michael está apaixonado por mim."

"Grande novidade.", Elsa revirou os olhos, cruzando os braços sobre o peito. "Ainda vocês não sabiam usar a sanita, já eu percebia que o Michael morria de amores por ti. Nada de novo.", ela riu-se secamente, continuando com uma expressão séria no rosto. "Mas algo mudou durante estes dias."

Estalei os lábios, abanando negativamente a cabeça. "Não sei do que falas."

"Ai não sabes?", um tom irónico saiu dos seus lábios vermelhos. "E aquele beijo que vocês trocaram? Não me digas que eu ando a ver coisas?" Uau. "E não negues!"

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now