"Largo Grimmauld"

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Enquanto as lágrimas escorriam nos seus olhos, Sirius tinha o seu corpo abraçado por Abigail, sentia que ela era a única coisa que mantinha os pedaços dele firmes naquele momento.

E então, Sirius desabou, não aguentava mais segurar os anos de choro engolido, sufocado.

Ele precisava contar, precisava contar tudo, desabafar tudo o que sentia.

Para isso, Sirius Black precisava encontrar o seu inferno, o seu inferno na terra:

Largo Grimmauld, número 12.

Ele encarava a residência dos Black com Abigail ao seu lado, a garota não dizia uma só palavra, Sirius menos ainda.

O grifinorio achava que seria capaz de enfrentar as suas dores, mas só de olhar aquele lugar, seus dedos tremiam e as suas pernas pareciam criar raizes no concreto que pisava.

Lá estava o sentimento que Sirius mais odiava tomando conta de si: medo.

- Eu estou aqui com você, querido. - Abby o faz encara-la segurando as bochechas do rapaz. - Eu sempre vou estar aqui. - Sirius consegue sorrir fraco assentindo de leve.

Sirius deu o primeiro passo.

E o segundo.

O terceiro.

Finalmente encostava na maçaneta da casa, o alarme para invasores não disparava para ele, para nenhum Black, na verdade.

O assoalho velho ainda fazia o mesmo barulho da última vez que entrou nessa casa, as paredes ainda estavam desgastadas no mesmo lugar, algumas manchas de sangue discretas sujavam o papel de parede.

Quando Abigail fecha a porta atrás de si, Sirius aperta os olhos com muita força devido à memória que a sua mente puxava.

- Vamos lá, seu ladrãozinho sujo, me devolva! - Órion gritava para o seu filho de seis anos que grudou um dos broches do seu pai na sua roupa.

Ele pensava que talvez se fossem mais parecidos, o pai gostaria mais do rapaz.

Mas, estava enganado. Orion não gostaria de Sirius nem se a sua vida dependesse disso. Nunca gostou.

- Me desculpe, papai, eu iria devolver. - é a última coisa que consegue dizer antes de um cinto entrar em contato com o seu rosto.

Sirius puxa o ar dos seus pulmões e Abby nota o seu desconforto, segurando mais forte nas mãos ásperas do rapaz.

- Você quer ir embora? - Abigail pergunta, mas Sirius balança a cabeça negativamente.

Ele sabia que precisava daquilo.

O Black deserdado era agora o único Black que restava naquela casa, que sempre costumava estar repleta deles. Tão sujos. Tão esnobes.

As pernas de Sirius o levaram até o pé da grande escada. Memórias horríveis invadem a sua mente, ele passa as grandes mãos no rosto, e assim que abre os olhos, pôde ver claramente a sua mãe descer as escadas apontando a varinha para si.

- Sirius, de joelhos! - ela gritava.

- Não! - ele enfrentava com lágrimas nos olhos. - Não vou ficar de joelhos! Eu não fiz nada de errado.

- De joelhos. - rosna entredentes. - não tenha a audácia de me desobedecer! - atinge o garotinho de 12 anos com um feitiço no estômago.

- Mamãe, por favor... - Tenta se aproximar engolindo o choro, mas a maldição cruciatus o faz cair de joelhos com a dor que sentia. - POR FAVOR, PARE! PARE! - gritava com toda a força que os seus pulmões tinham.

- Quando eu disser que você deve ficar de joelhos, fique de joelhos! - ela aperta as bochechas dele com raiva.

Sirius nunca conseguiria descrever a dor que o seu pequeno e magro corpo sentiu naquele dia, seus dedos tremiam só de lembrar. Só naquele momento, o rapaz nota não ter aberto os olhos até então, sua visão estava turva, ainda tinha bastante bebida no seu organismo.

As batidas do seu coração acalmaram quando ao invés do rosto amargo de Walburga, os seus olhos encontram os doces olhos de Abigail, o amor da sua vida.

- Eu amo você. - Ela o oferece um sorriso reconfortante. - Amo você mais do que qualquer coisa.

Sirius sorri. E aquele foi o primeiro sorriso sincero que deu naquela casa, ela não parecia mais tão pavorosa com a presença de Abigail ali.

- Eu a amo mais do que a minha própria vida. - acaricia o rosto dela, enfiando os dedos nos seus cabelos macios. - Confio em você tudo o que eu tenho e tudo o que eu sou, e isso é uma parte do que eu sou. - levanta os olhos e encara o teto, tudo ali parecia sombrio. - Essa é a casa dos Black. - apresenta sem graça. - Ou melhor, o meu inferno na terra, dói apenas pisar aqui.

- Não posso dizer que não notei. Mas, por que me trouxe aqui? - pergunta calmamente. - Se dói tanto, por que quis vir?

- Eu trouxe você porque você é o meu paraíso... o meu anjo... nada teria o mesmo poder de me atingir se Abigail Parsons estiver ao meu lado.

Doía admitir tudo isso, doía demais. Não era comum para Sirius se expor tanto assim, mas aquela era a sua última tentativa de se afastar do que os Black eram.

Sirius já havia superado um de seus medos por causa de Abigail: ele não tinha mais medo de ceder as trevas dentro de si.

Ele nunca iria ceder ao seu lado sombrio, porque aquele não era o verdadeiro Sirius Black.

- Você é gentil, doce, amoroso... Sirius, você é o homem da minha vida, se para você, ser um Black é ser malvado, para mim, ser um Black é ser incrível, o único Black que eu conheço é você. - as palavras de Abigail voltavam na sua mente enquanto tinha o rosto acariciado por ela.

O único medo de Sirius era perdê-la.

Era nunca mais conseguir encostar na pele quente, ouvir a risada melodiosa, o rosto corado reagindo aos toques do rapaz, e os olhos... os olhos doces que nunca tinham o peso do julgamento em si, eram sempre compreensão.

- Aqui foi o lugar que eu vivi os piores anos da minha vida. - ele explicava enxugando as lágrimas. - Eu não sou capaz de puxar nenhuma memória agradável desse lugar, nenhuma sequer.

Não que Sirius nunca tivesse vivido memórias agradáveis ali, mas eram tão seletas e curtas, que as dores cobriam todas elas.

- Nós poderíamos tentar mudar isso. - Abby diz dando um beijinho no queixo dele, logo dá outro na ponta do nariz e nas bochechas do rapaz, mas afasta o rosto novamente para encara-lo e sorrir sinceramente. - Você quer voltar a ser o meu namorado?

O coração de Sirius disparava, suas mãos traziam o rosto de Abigail mais para si pelo pescoço enquanto seu nariz passeava pela pele macia das bochechas da garota, parando encostado no nariz corado de Ab.

Ela era a melhor criatura que já havia pisado na terra.

Era um anjo.

- Eu tenho uma ideia melhor.

Sirius fica de joelhos, segurando os quadris de Abigail com mais força do que deveria, um sorriso inevitável brilhava no seu rosto.

Daquela vez, não doía estar ali de joelhos, daquela vez, ele não estava sendo obrigado, nem sendo humilhado.

Ele sabia que ali estava seguro.

Daquela vez, se ajoelhava em sinal de devoção ao amor que sentia, maior do que ele, maior do que qualquer coisa que Sirius conhecia.

- Se case comigo, Abigail. - ele sorri beijando as mãos dela, ele não havia planejado aquilo, mas parecia ser o que o seu coração pedia. - Você já é a minha vida, o meu norte, tudo o que eu acredito... agora eu quero que você seja a minha noiva.

TELL ME A SECRET || SIRIUS BLACK Onde as histórias ganham vida. Descobre agora