"Confiança"

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O beco diagonal parecia chorar naquela noite chuvosa em que a Ordem da Fênix lutava contra os comensais da morte. Abby enxuga as gotas da sua testa com a ajuda do seu casaco fino, aperta mais a varinha contra os seus dedos.

Sirius aparece um pouco mais tarde, todos pareciam muito cansados da batalha incessante. Analisa Abigail alguns passos na sua frente, ela lutava contra Dolohov, a raiva da briga que teve com Sirius horas atrás ainda parecia queimar na sua pele.

Cada vez mais o local estreito ia sendo tomado pelos comensais da morte, era inegável que estavam em maior número. A Ordem tinha mais feridos, que lutavam bravamente, tanto pela sua vida, quanto pela vida dos comerciantes locais.

O rapaz Black olhava no fundo dos olhos do velho Byron Lestrange, banhados de temor, talvez aquele fosse o pior tipo de ser humano que pisasse no mundo.

"Se um homem não tem coragem, o que ele tem? - Régulo murmura uma frase do livro que seu irmão o havia dado de presente de aniversário de 14 anos. - Qual é, afinal, o grande problema que você tem em sentir medo?

Sirius se desencosta da cama, virando para encarar o seu irmão mais novo, apoiava o antebraço na cama perfeitamente bem arrumada de Régulo.

- As vezes eu penso que você tem medo de sentir medo. Medo do medo, você é fascinante, irmão. - O Black mais novo sorri acariciando de leve as páginas grossas do livro velho.

- Por que você fala desse jeito? - faz cara feia. - é como se cada vez que abrisse a boca, eu ouvisse um dos caras da reunião idiota das família de sangue-puro.

- Você quer dizer, o Jantar da Honra Purista? - Régulo corrige rindo. - O papai também convidou você?

Sirius inclina a cabeça em estranheza.

- Não, o seu pai não me convidou. - O rapaz fica de pé na cama, tocando a parte de cima dela com a ponta dos dedos. - Eu não iria de qualquer forma, aqueles homens não sabem nada sobre honra, não me admira que ele o tenha te convidado, deseja que você seja tão podre quanto ele um dia. Como ele ficou quando você o rejeitou?

Régulo encara o chão, fechando o livro em desconforto, não poderia fitar os olhos desapontados de Sirius, não agora.

- Você o rejeitou, não? - pergunta com mais firmeza, Régulo ainda não conseguia falar uma só palavra.

A verdade era que os seus pais o assustavam, Régulo odiava dizer "não" para eles, mas, Sirius? Ele morria de medo do irmão mais velho.

Ele não admirava os pais, mas sabia que a única forma de sobreviver ali era sendo como eles queriam, e essa se tornou a única forma que ele conseguia se expressar.

Sirius era o modelo de tudo o que ele desejava ser, odiava desaponta-lo. Odiava não conseguir ser corajoso como ele, ou forte como ele.

- Eu aceitei.

- Por quê?

- O nosso pai pediu.

- O seu pai.

- O meu pai pediu.

Sirius fica de pé.

- Jantar da honra? O que eles sabem sobre honra? Eu respondo: porra nenhuma. - Ele segura a gravata do irmão, o obrigando a encara-lo. - Um homem sem coragem e sem honra, é um homem morto.

TELL ME A SECRET || SIRIUS BLACK Onde as histórias ganham vida. Descobre agora