• Prólogo

343 41 369
                                    

Turim, Itália

Um mês depois

Sinto os meus dedos congelarem por causa do frio então fecho o zíper do meu casaco e enfio as mãos dentro dos bolsos dele.

Olhando em volta, inalo o cheiro adocicado dos perfumes que pairam no ar. Perfumes que me causam enjoo. Acho que mesmo que eu não estivesse grávida ainda ficaria com o estômago embrulhado diante de tanta mistura de odores fortes.

Prendo um pouco a respiração e me afasto do balcão vazio onde estou, caminhando até uma das mesas redondas que ficam no meio do salão.

O silêncio comum da manhã açoita o lugar onde estou.

Levanto a cabeça e fito o teto. Quantas vezes já fiz isso nos últimos minutos? Cinco, vinte, trinta vezes? Talvez até mais.
Estou nervosa. Muito nervosa.

— A Mimi entrou com ele no quarto!

Giro nos calcanhares e sinalizo com a mão para que a mulher que vem descendo as escadas faça menos barulho.

Ela aperta os lábios e me olha como se pedisse desculpas.

— E os seguranças? — Pergunto e olho por cima dos ombros.

As portas vermelhas estão fechadas, mas do lado de fora sempre há uma muralha mal-humorada esperando.

— Eles devem estar fumando do outro lado da rua! — A mulher a minha frente diz e pisca o olho. Ela usa sombras fortes em tons de azul para combinar com seu vestido justo e cheio de franjas que sacodem a cada passo que dá. — Mas de qualquer forma eu acho melhor você sair pela porta lateral. Lá ninguém vai e não tem seguranças. A porta desemboca em um beco, mas se você seguir reto, vai chegar até um ponto de táxi e de lá poderá fugir.

Tiro as mãos dos bolsos e esfrego uma palma na outra. O frio dobrou de intensidade. Agora até os meus ossos tremem.

— Fanny, e se...

— Karol, não adianta ter medo agora. — Ela me interrompe com firmeza, apesar da doçura que há em seu olhar. — O que o Vincenzo fez com você ele já fez com todas nós que trabalhamos aqui, mas acontece que há um bebê na sua barriga e eu não vou deixar que algo aconteça por causa daquele cafetão nojento! Eu vou te ajudar a fugir. Eu prometi e vou cumprir. Confia em mim, tudo bem?

É claro que eu aprendi a não confiar em ninguém, mas a partir do momento em que fui sequestrada e trazida para um bordel nos confins da Itália por um insano que recruta estrangeiras para a sua imundície, entendi que o melhor que posso fazer é tatear o escuro em busca de uma saída.
E nesse momento Fanny Michela é a minha saída.

Quer dizer, eu nem sei se esse é o nome real dela ou o nome que usa para enganar os homens que frequentam esse lugar toda a noite, mas de todo modo, ela foi a única pessoa com quem tive contato desde que fui arrastada para cá e trancada no subsolo até que o Vincenzo achasse que eu já poderia vir trabalhar aqui.

Fanny me levava comida e fazia muitas perguntas. No início eu fui enfática e grosseira com ela, mas quando passei mal com muito enjoo e tonturas infinitas, tive medo de perder a minha filha e implorei que me ajudasse.

Ela também já foi mãe, mas perdeu o bebê. Então me entendeu e prometeu me ajudar.

E cá estamos nós; no dia da minha fuga.

— E se ele fizer algo com você? — Eu pergunto enquanto ela me guia por um corredor que não conheço, porque nunca andei aqui em cima. — O Vincenzo pode descobrir que você me ajudou e fazer alguma merda. Aquele homem é um desgraçado.

Fuego En La Sangre - Livro 2Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon