• Quinze

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— Pelo amor de Deus, eu não tenho pulmão para isso, menina! — Alguém diz fazendo com que a garotinha nos meus braços e eu nos viremos na mesma hora.

Não percebemos quando as borboletas vão embora, mas elas infelizmente se vão.

— Avi! Avi, tem bôleta zu!

Coloco-a no chão e ela vai correndo para os braços do homem que se aproxima arfando.

Ele a põe no colo e lhe abraça forte, como se estivesse assustado.

Por um momento eu me questiono se já não o conheço, porém, a minha memória não anda nem um pouco boa. Contudo, fico com a clara sensação de reconhecimento.
Talvez... talvez seja só o tumor comendo até a parte da razão, deixando-me como aqueles malucos que confundem tudo.

— Nunca mais saia correndo assim, viu? Eu pensei que... que não ia te alcançar. Quer me matar do coração? Já te disse pra me esperar, meu amor. Consegue me entender? Não pode sair sozinha, é perigoso.

— Dicupa, Avi.

Observo a cena de longe. Enfio as mãos nos bolsos e umedeço os lábios. Ele sem dúvida é o pai. Só um pai estaria com aquele olhar apavorado ao perder a filha de vista. Eu o entendo, acho que eu seria igual.

— É claro que eu te desculpo, minha linda. Só não faça de novo. Combinado?

— Combinado. — Ela joga os bracinhos em volta do pescoço dele, abraçando-o como tinha feito comigo minutos atrás.

Sei que não devo, mas sinto um pouco de ciúmes.
Na verdade, isso é ridículo, então me repreendo imediatamente.

— Desculpa, eu deveria te agradecer. — O homem se dirige a mim, aproximando-se. — Obrigado por ter... enfim, estado aqui com ela.

Estendo a mão e aperto a mão que ele me oferece.

— Não se preocupe. Imagino que seja verdade quando dizem que as crianças são capazes de nos deixar cegos.

— Nem me fale! E essa mocinha aqui então! — Ele cutuca a barriguinha dela e ela ri. — Ela é muito sapeca. E eu acho que estou ficando velho, porque corri tanto e ainda não a acompanhei.

— Talvez tenhamos aqui na nossa frente a futura campeã de atletismo do país! — Brinco.

— Será? Não duvido. — Ri. — A Lulu é uma menina muito esperta.

— Lulu? — Indago esticando a mão para afagar seus cabelos. — Esse é o nome dela mesmo?

— Lhulhu!

— Eu acho que ela prefere Lulu, está vendo?! — O homem graceja, beijando-a na bochecha. Depois se vira pra mim. — Eu me chamo Davi Ávila, muito prazer e muito obrigado novamente por ter cuidado da minha filha.

Assinto devagar constatando que a minha teoria era verdade.

— Sua filha... — Balanço a cabeça. Ela olha pra mim sorrindo. — Você tem muita sorte. Imagino que seja uma benção ter uma filha.

— E é mesmo. A mãe dela e eu somos muito sortudos.

— Posso imaginar. Ah, a propósito, eu me chamo Ruggero Pasquarelli.

— Muito prazer também, Ruggero. — Davi sorri. — Agora, infelizmente, a Lulu e eu precisamos voltar, porque eu preciso ir trabalhar, mas, novamente, obrigado e espero que possamos nos ver de novo.

— Ah, claro...

Fico num impasse se vou até a Lulu ou não, porém, ela em contrapartida é mais rápida e estica os bracinhos na minha direção assim que Davi começa a se afastar. Ele então para e vejo a surpresa estampada em seus olhos.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now