• Trinta e Seis

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Ruggero

O Alex pediu para me ver. Ou melhor dizendo, ele queria falar com a Fanny, mas eu era a única pessoa no hospital no momento, então ele teve que se contentar comigo mesmo.

— Ele não pode falar muito ainda. — A enfermeira me diz enquanto empurra a minha cadeira de rodas pelo corredor da UTI. — O seu amigo está um bocado sonolento e acho que ainda não assimilou todo o ocorrido, então se puder passar longe das notícias ruins, vai ser melhor para a recuperação dele.

Penso um pouco sobre o que ela diz, porque ultimamente a nossa vida tem sido apenas uma sucessão de notícias ruins.

Quer dizer, não tudo, mas boa parte.

— Olha, e sobre aquilo que eu te perguntei ainda pouco?

— Sobre um tal de Cassiel? Sinto muito, senhor Pasquarelli, mas não tem nenhum médico com esse nome aqui. Até perguntei na recepção se alguém deu entrada no hospital com esse nome, mas não há registros.

Abano a cabeça. Não é possível. Não é cabível eu ter inventado algo que se pareceu tão verídico.

Cassiel estava no quarto. Ele realmente estava.

E ao pensar nisso eu automaticamente me lembro da senhorinha que falou comigo anos atrás. A senhora que me encontrou no hospital onde o maldito do Javier estava. Ela também havia me dito coisas enigmáticas como se me conhecesse.

Naquele época eu não estava doente. Não foi uma invenção. Então talvez... Não! Não posso ficar colocando essas coisas na cabeça. Isso é insano!

— Obrigado mesmo assim. — murmuro para a enfermeira. — Acho que eu estava confuso.

— É normal ter um quadro de estresse pós-traumático após o que viveram. Se o senhor quiser, eu posso pedir que o psicólogo vá até seu quarto. Talvez conversando com ele...

— Eu não preciso. — Me adianto, afastando o assunto. — Mas agradeço.

A enfermeira não diz mais nada e eu fico grato por isso. A última coisa da qual preciso é de alguém me forçando a falar sobre os meus traumas com uma pessoa que não conheço.

É lógico que é importante passar por uma terapia, mas a essa altura eu só tenho tempo de resolver o que for de extrema necessidade.

Por isso, após ver o Alex, vou exigir a minha alta.
Eu posso me cuidar em casa. Além do mais, preciso ver a Luna. Não posso deixá-la nem um segundo a mais a mercê do imbecil do Davi.

Inclusive, Daiane está vindo me buscar.

Karol e eu também precisamos conversar e entrar em um acordo. A achei excessivamente estranha na ligação. Era algo que ia além das nossas últimas brigas. Portanto, não posso perder tempo aqui.

E nem estou tão mal.

— Você está péssimo! — É a primeira coisa que o Alex diz assim que me vê.

Estalo a língua com desdém.

— Eu ia dizer o mesmo de você.

Ele leva a mão até o peito de modo teatral.

— Essa conversa ficou maldosa tão rápido!

Abano a cabeça, rindo. A enfermeira já se foi, mas me deixou bem perto do leito onde ele está, sendo assim, estico a mão boa e toco o seu braço, checando se isso é real mesmo.

Depois do maldito susto que levamos e da forma tão ruim que ele ficou, é um profundo alívio perceber que meu amigo está realmente vivo e respirando, apesar de estar usando um negócio no nariz que o ajuda com isso.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now