• Vinte e Sete

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Ruggero

Eu estava com a minha filha no colo. A minha pequena Luna. A minha borboleta azul.

Seu rosto não era nítido para mim. Uma luz cobria sua face e não me permitia olhá-la nos olhos, mas isso não me impedia de segurá-la com força nos meus braços, desejando que nada a tirasse de mim.

Enterrei o rosto em seu pescoço e inalei o cheiro de seu perfume de bebê. O ar se embolava dentro dos meus pulmões, mas eu não me importava. Eu só queria ter certeza de que era real.

Luna me abraçou de volta. Seus bracinhos eram curtos e gorduchos. Ela balbuciou o meu nome e se agarrou à mim com mais força, como se algo invisível tentasse levá-la.

Eu não compreendia seus apelos.
Eu só a protegi.

- O papai nunca vai te deixar.

- Papá.

- Estou aqui, minha borboleta. Estou aqui...

Tão logo falei isto, fui puxado para trás. Tentei com todas as forças mantê-la comigo, mas as mãos que me puxavam também me obrigavam a soltá-la. Eu lutei contra, quis correr, contudo, fui vencido.

Luna escapuliu dos meus braços como a areia da praia que escorre por entre os dedos.

Ouvi seu chorinho. Ela me chamava. Ela me chamava muito. A minha filha estava precisando de mim. A Luna não quis ir embora. Não quis...

- NÃO! NÃO!

- Ruggero? Ei! Ruggero! Calma! Ruggero!

Pegando impulso, meu corpo solavancou brutalmente. Pensei que ia despencar, mas fui empurrado, caindo deitado sobre o colchão que estava bem embaixo de mim.

Minha cabeça tombou contra o travesseiro e imediatamente fitei o teto branco que sustentava um ventilador que girava e girava...

- A minha filha! A minha filha...

- Ruggero, sou eu. Ei, olha pra mim, caramba! Sou eu, o Alex. - Mãos seguraram o meu rosto e logo me vi fitando o rosto familiar do meu amigo. - Foi só um sonho. Está tudo bem. Ok? Está tudo bem. O pior já passou, eu juro.

O pior...

Bati os cílios várias vezes para apurar a visão embaçada.
Respirar ainda era uma tarefa difícil, mas me mover era ainda pior. E quanto mais eu tentava me sentar, mais dor despontava.

Alex desprendeu o braço da tipoia e me segurou contra o colchão. Ele repetia que eu precisava me acalmar.
Porém, ele não entendia. A Luna... A Luna estava comigo... Ela estava, sim!

- Cadê a Luna?

- Oh meu amigo...

- A Luna estava aqui. - enfatizei. - Cadê ela? Quem a levou? Porque a tiraram de mim, Alex? Porquê?!

- Ruggero, infelizmente, a Luna não estava aqui. Ok? Amigo, você sofreu um acidente. Foi bem feio, mas por um milagre os médicos disseram que não foi tão grave. Porém você machucou um pouco o rosto e as pernas. Graças à Deus você estava de cinto.

A princípio eu abanei a cabeça negando. Parecia ilógico tudo isso. Acidente? Eu não me lembrava.

Entretanto, quando puxei os lençóis e percebi as inúmeras escoriações nas minhas pernas, além de uma dor profunda no meu nariz e nos meus lábios, constatei que uma vaga lembrança fazia questão de se manifestar.

Estavam me seguindo... Puta merda!

- A KAROL! Alex! - Agarrei a roupa dele, puxando-o. - Alex, cadê a Karol?! O que aquele desgraçado fez com ela? O que ele fez?!!!

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now