• Trinta e Oito

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Karol

Mal consigo sentir os meus pés tocarem o chão de tão rápido que corro. Por um segundo parece que nunca vou alcançar a porta lateral da boate.

Isso me faz pensar no dia em que eu fugi. Três anos atrás. A Fanny havia me ajudado, ela me disse para não olhar pra trás e proteger a minha filha.

Depois disso o táxi foi perseguido e nós, a Luna e eu, quase morremos.
Contudo, apesar desse final, a Fanny havia tentado me livrar desse inferno à custa de sua própria vida. E agora cá estou eu de volta, como naquele dia, em uma posição onde posso ajudá-la.

Por isso não vou hesitar.

— Espera, espera!

— Eu não posso perder tempo! —  Guincho, me desvencilhando da mão do meu marido. —  Cada segundo conta. Você ouviu os tiros, Ruggero!

—  Sim, Karol, eu ouvi. Mas não podemos entrar dessa forma. É perigoso. E se estivermos feridos não poderemos ajudar ninguém. Calma!

Corro as mãos pelos cabelos.

A rua da boate é sempre deserta durante o dia. A movimentação caótica só acontece de noite.

Há um frio tremendo estremecendo até os meus ossos.
Parece até um mal presságio.

— O pessoal da Leila não disse mais nada?

— Eles estão à caminho. Vão chegar a qualquer momento.

— Não é o suficiente! O Vincenzo só precisa de cinco minutos para fazer isso tudo ruir com o pessoal dentro.

— E o que você pretende? Quer estar lá quando isso acontecer? Karol, pelo amor de Deus, se escuta! Eu entendo que a Fanny signifique muito para você, porque o Alex é igual pra mim, mas se estivermos em perigo, não vamos conseguir fazer nada de útil. Nós seremos só mais duas vítimas nas mãos dele.

Solto o ar com força e encaro a porta lateral.
Ela está apenas encostada. Talvez o plano seja fugir por aqui. Talvez o Vincenzo saiba que...

— Alguém deve ter avisado a ele que a polícia está vindo.

— O quê?!

— Alguma pessoa de dentro dessa equipe que vem prendê-lo é um informante dele! Puta que pariu! Ele vai fugir, Ruggero. Alguém avisou!

Meu marido me encara. Sua face está pálida. Ele está debilitado ainda. O Ruggero nem deveria ter saído do hospital. Que droga!

— Que porra!

— Até os outros chegarem ele já terá fugido. — murmuro. — Eu confio no pessoal da Leila, porque claramente não são todos da laia do Vincenzo, porém, se tiver um lá dentro que simpatiza com as merdas desse infeliz, já é o suficiente para atrasar a operação. Você me entende, não é?

— Eu sei.

— Então me escuta... — Aproximo-me, segurando em sua mão. — Você precisa ficar aqui e entrar em contato com a Leila. Fala sobre o informante e garante que eles vão chegar...

— Karol, não!

— Eu posso acalmar o Vincenzo. Eu valho mais viva do que morta pra ele. Presta atenção! É sério. Faz o que eu disse.

— Sem chance! Se você entrar eu vou entrar junto.

— Não, Ruggero. — Respiro fundo e enfio a mão na bolsa. Ao tomar distância, aponto a arma para ele. — Você vai ficar aqui, senão, eu juro por Deus, que eu vou atirar. E eu sei que você nunca vai me perdoar, mas eu também nunca me perdoaria se a Luna viesse a crescer sem nós dois.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now