● Quarenta e Quatro

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Karol tateou o travesseiro do lado com a mão, mas logo se deu conta de que o canto oposto estava vazio. Ela bocejou e abriu os olhos, sorriu e depois se virou de barriga para baixo, completamente sonolenta ainda. Não tinha planos de se levantar tão cedo, mas sabia que logo precisaria fazer isso.

E como se lesse os pensamentos dela, a figura desconcertada de Sarita invadiu o quarto e foi direto até a cama, balançando a perna dela com a mão trêmula.

— Karol, Karol, acorda. Acorda, por favor!

— Só mais uns minutinhos. Diz para o Ruggero levar a Luna hoje, é o dia dele. Eu prometo que busco. — A advogada suspirou, sendo levada pelo sono. — Só mais uns minutinhos...

Sarita passou a palma da mão pela testa e foi até a janela, afastando as cortinas.

Ruggero não estava mais lá embaixo, tampouco o homem que estivera conversando com ele quando ela foi buscar a Luna. E por mais que tudo parecesse bem, Sarita não pôde negar que sentiu uma impressão horrível ao olhar nos olhos do outro cara.

Há muitos anos cuidava daquela família. Ruggero e Elisa era como se fossem seus filhos e ela os amava. E de alguma maneira impossível de explicar, seu lado maternal estava inquieto como se precisasse fazer algo mesmo que não soubesse o quê.

— Karol, a Luna já foi para a escolinha. O problema é outro. Acorda, por favor...

— Daqui a pouco eu desço. Juro...

— Karol! — Insistiu, sentando-se à beirada da cama. — Querida, me escute, por favor. Eu preciso que me mostre a foto daquele médico que morava com você. Eu acho que era ele que estava aqui.

Sarita já tinha visto Davi no hospital, mas foi muito rapidamente. Outro dia Luna mostrou uma foto dos dois juntos tirada anos atrás, mas a senhora queria ter certeza de que não se enganara, já que sua memória não era a mesma da juventude.

— Médico? — Karol resmungou, virando o rosto sonolento, ainda com os olhos fechados. — Que médico? Médico de quem?

— Acho que se chamava Davi. Isso! Davi! Você tem uma foto dele aí, não tem?

Apesar de ainda muito desorientada pelo sono, Karol abriu os olhos de supetão ao ouvir aquele nome. Uma sensação ruim subiu por sua garganta à menção do homem que ela queria bem longe.

— Por que está perguntando sobre o Davi? Sarita, o que aconteceu?

— Eu preciso que me mostre a foto dele, só para que eu tenha certeza antes de falar. Por favor.

Por mais que um mau pressentimento absurdo lhe assolasse, Sarita não ousava pensar totalmente no pior. Ela queria cogitar que Ruggero havia ido caminhar, que estava pelas redondezas. Qualquer coisa, menos que tivesse saído com um de seus inimigos.

— E-eu não estou... não estou entendendo. — Karol falou, mas mesmo assim esticou a mão e pegou o celular na mesinha ao lado da cama, destravando a tela. — Aconteceu alguma coisa? Cadê a Luna? A minha filha está bem, não é?

— Sim. Sim, ela está. Ela... ela foi para a escolinha na van com as outras crianças. Está tudo bem com ela. Eu juro.

Mesmo com o coração acelerado e o sono indo para longe, Karol precisou se concentrar na ação de caçar na galeria do smartphone uma foto de Davi. Ela não tinha apagado todas, porque na maioria ele estava com a Luna. E bom ou ruim, a filha gostava dele e vez ou outra pedia para ver as fotos dos dois.

Luna ainda não fazia ideia do monstro que admirava.

— Aqui. É este. — Karol entregou o celular para Sarita e se sentou, puxando o lençol para cobrir seu corpo nu. — Você o viu, por acaso? Ele estava por aqui?

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now