— O quê?
— Eu perdi a criança. — Ela diz olhando nos meus olhos, mas eu mal consigo enxerga-la por causa das lágrimas que se acumulam nublando a minha visão. É instantâneo. Meu corpo reage com uma dor profunda no topo da cabeça que vai se alastrando pela nuca, descendo pelos meus ombros. — Fiquei em coma por um tempo e quando acordei o médico me disse que me salvei por muito pouco, mas que infelizmente o bebê não havia resistido.
— A bebê. — Balbucio virando a cabeça, fitando a toalha da mesa. — É uma menina.
— Menina?
— Luna. — Digo, mas a minha voz parece distante, não parece sair de mim. — O nome dela é Luna.
Bato os cílios para afastar as lágrimas, então elas caem pingando na minha camisa. Puxo ar, mas nem todo o ar do mundo parece ser o suficiente para me tirar de dentro desse tanque abarrotado de sentimentos que estou afundando.
Tateio a beirada da mesa e me apoio, ficando de pé.
— Espera, você está bem? Você ficou muito pálido.
As mãos dela aparecem no meu campo de visão, mas eu apenas as encaro sem conseguir toca-la porque a culpa me inunda. É por minha culpa que suas mãos jamais tocarão o corpo da nossa filha. É por minha culpa que a Luna nunca sentirá o carinho da mãe dela, o toque quente e delicado...
Fui eu! Eu que matei a minha filha!
— Preciso sair daqui. — Guincho esfregando a minha testa.
Minhas pernas pesam quando eu as forço a funcionar. Faço todo o esforço possível para não cair, apoiando-me à parede do lado de fora, mas até o batente parece se esquivar de mim, então eu cambaleio; e é aí que a sinto me segurar pela roupa.
O cheiro dela me atinge primeiro, depois sua face fica nítida.
— O que você está sentindo? Olha pra mim, o que houve? Quer dizer... e-eu sei que não... que não é uma coisa fácil de saber, mas fala comigo. O que está sentindo? Seus lábios estão ficando arroxeados. Vem, vamos entrar.
Levo a minha mão até sua bochecha e acaricio sua pele corada por causa do frio.
Karol carrega nos olhos e dentro de si a benção de não conseguir entender a dimensão dessa dor. Parece até justo da parte do destino deixar essa dor ser só minha, afinal quem começou essa merda toda fui eu.
A vingança sobre algo do passado acabou com o nosso futuro.
— Perdão. — É tudo o que consigo dizer antes de me desvencilhar dela e correr de volta para o estacionamento da clínica.
Assim que entro no veículo, dou a partida.
Pelo retrovisor eu a vejo vindo atrás de mim, mas mesmo assim eu vou embora. Acelero o máximo que posso.
•
Quando volto para casa já é de noite.
Nem sei exatamente o que fiz durante o resto do dia que dirigi sem destino pela cidade. Turim não é tão grande ao ponto de fazer alguém se perder ou ficar sem rumo, mas em determinado momento deixei o carro e me embrenhei pela floresta, tentando encontrar um lugar onde a neve estivesse mais encorpada e eu pudesse ficar ali, congelando, morrendo devagar de um modo que o sofrimento me arrastasse lentamente até que eu aprendesse com os erros e partisse.
Mas o máximo que consegui foi dar de cara com alguns moradores das cabanas próximas. A maioria me conhecia, já outros faziam questão de acenar por pura cordialidade.
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Fuego En La Sangre - Livro 2
Romance" Passei bastante tempo nas estradas olhando em volta. Eu procurava algum traço dela, qualquer coisa. O tom de pele, a cor dos cabelos, a risada alta e contagiante. Qualquer coisa mesmo. Mas até a esperança pode acabar. ...