• Dezenove

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Sol


Antes mesmo de tomar consciência dos fatos que me trouxeram aonde estou consigo sentir uma pressão ao redor dos meus pulsos, e quando tento movê-los para aliviar o desconforto, percebo que ambos estão presos a algo.

Abro os olhos abruptamente e depois fecho-os por causa da claridade que açoita o meu rosto.

Sacudo as pernas, mas ambas estão ligeiramente afastadas e meus dois tornozelos estão tão presos quanto os meus braços.

— Não seja tão alvoroçada, meu bem. Vai acabar ficando cheia de marcas.

Giro o pescoço, abrindo os olhos de novo.

— Não precisa disso, Vincenzo.

— Mas o que é isso? Não está achando a cama confortável? Mandei trazerem um travesseiro com penas de ganso, os lençóis são de seda pura... E olhe a estrutura desse quarto... digno de uma princesa!

Não preciso olhar o entorno para saber onde estou.

Essa é a gaiola de ouro do Vincenzo. É impossível dizer a localização exata, mas não apenas eu, mas outras meninas também já fomos trazidas aqui quando algum cliente faz alguma reclamação referente a nós.

É chamado de "Zona de Castigo".

Algumas ficam aqui por dias sem comer, beber ou ver alguém. Ficam trancafiadas e só saem quando o Vincenzo quer. Ele as faz pedir perdão de joelhos e prometerem que vão ser obedientes e fazer tudo o que os clientes mandarem.
Quando foi a minha vez, fiquei aqui apenas um dia, isso foi logo depois que voltei à boate. Vincenzo queria me ver desesperada, então me prendeu nesse quarto e me deixou pensar que iria matar a minha filha e o Davi.

Nesse dia eu descobri o que era sentir medo de verdade.

Ele me queria submissa e quieta, então eu lhe prometi ser a mais compromissada e excelente bailarina da boate. No fundo eu sabia que era só uma vingança pela minha fuga, mas o medo falou mais alto – e ainda fala.

— Você sabe que eu não vou fugir. — Balbucio.

Ele anda pelo cômodo com uma mão no bolso e a outra segurando uma taça de vinho.
Parece muito mais tranquilo do que deveria, então imediatamente sei que está aprontando alguma.
Isso me causa calafrios, mas não demonstro. Se ele farejar o medo, estarei verdadeiramente perdida.

— Eu mandei pintar as paredes... — Comenta, apontando para a nossa volta. — Você gosta de vermelho?

Movo apenas os olhos, percebendo que é verdade. Antes tudo era branco. Tão branco que apavorava. Até os móveis não tinham a menor vida; tudo opaco de cima a baixo.
Mas agora não. As paredes são de um vermelho impecável; o piso é de madeira escura, o teto tem o pé direito mais alto e os móveis são da cor da madeira clarinha da cama.

Há até um lustre sobre a minha cabeça.

Tento me mover, mas é impossível com os pés e as mãos atados aos dosséis da cama. Não me mexo um centímetro sem sentir uma dor latente em cada músculo.

— Porque não diz logo o que quer comigo, Vincenzo?

— Estou tentando espairecer os meus sentimentos, Sol. — Responde com sobriedade, sentando-se à beirada do colchão. — Não gosto de me sentir zangado, mas você me deixou bastante aborrecido com a sua conduta. De verdade, sinto-me muito magoado.

Observo-o pousar sua taça sobre a mesinha ao lado da cama e cruzar as pernas, dirigindo-me toda a sua atenção.

— Que você era uma boa mentirosa eu já sabia. — Prossegue. Sua voz amena me deixa em alerta. Parece a calmaria que antecede a tempestade. — Mas eu realmente achei que tínhamos um acordo sólido e bem amparado pelos anos que nos conhecemos.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now