• Quarenta

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Fanny

Eu não me lembrava exatamente de como, mas algo me dizia que eu tinha batido a cabeça muito forte.
O meu crânio todo latejava, até os meus ouvidos estavam zunindo.

O que quer que tivesse acontecido se assemelhava a um machado rachando meu cérebro em dois pedaços.

Era absurdo que doesse tanto!

Relutei muito em abrir os olhos, mas a ansiedade me fazia querer entender aonde eu estava.
A minha última lembrança é de estar na boate, mas o resto se desfaz rapidamente, sem fazer muito sentido.

— Sabe, quando eu dizia que queria acordar do seu lado, não era exatamente assim.

Mal abro os olhos e já reconheço a voz. É uma voz tão importante que ressoa dentro de mim, me trazendo para a realidade rapidinho.

Num segundo eu viro o rosto. A dor é forte, mas compensa.

Vejo com a visão nublada que Alex está deitado numa maca bem ao meu lado, talvez a um braço de distância.

Ele parece bem apesar dos aparelhos que estão ligados ao seu corpo. Na verdade, mesmo abatido, ainda é o homem pelo qual eu me apaixonei. O único rosto que me faz sentir esperança.

Um sorriso involuntário salta dos meus lábios secos, contudo, uma lembrança me atinge em cheio.

O carro alvejado... Ele e Ruggero baleados... Alex quase tinha morrido... Ele estivera à beira da morte...

— Alex — Guincho com uma voz tão débil que mal reconheço. Tento me levantar de pronto, mas me dou conta de que não tenho força, só vontade, e não é o suficiente.

Tombo de volta contra o travesseiro. Uns bips chatos alardeiam e me deixam confusa.
Porque estou com esses malditos fios presos em mim? E esse negócio no meu nariz?
O ar começa a pesar dentro de mim e começo a tossir, virando a cabeça de lado para não entalar.

— Fanny, você precisa se acalmar. Está tudo bem. Eu juro que está tudo bem.

Alex estica o braço. A mangueira do soro balança e vejo a agulha afundada em sua pele, presa por um esparadrapo branco.

Ele toca o meu cotovelo com a ponta dos dedos. Parece tão fraco.

— O que aconteceu?

— Você não se lembra do que ocorreu na boate? O incêndio? O imbecil do Vincenzo querendo fugir?

Aperto os lábios até doer. Meus olhos se estreitam e devagar sou arrastada de volta para aquele inferno.
As lembranças são apenas lapsos desconexos, mas consigo assimilar o que tinha acontecido.

As memórias são brutais. Eu quase posso sentir o cheiro da fumaça e como ela entrava pelo meu nariz e boca, grudando lá dentro, me sufocando.

E tinha a pancada...
Alguém tinha batido forte na minha cabeça quando me neguei a ajudar a prender as meninas, quando lutei para ajudá-las...

— Alex, o Vincenzo vai queimar... as meninas. E-eu preciso...

— Fanny. Fanny, meu amor, está tudo bem. Se deita, por favor. Só me escuta, ok? Olha pra mim. Vai, olha pra mim.

Mesmo angustiada, obedeço.

Ele me oferece um sorriso apaziguador que logo ilumina seu rosto esquálido.

— Acabou. — Diz. — O Vincenzo está morto. Aquele desgraçado morreu, Fanny. Foi engolido pelo fogo, virou churrasco de Diabo. Digno de um filme sangrento do Tarantino. Mas, acabou. Ele não vai mais machucar ninguém, eu juro.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now