• Vinte e Três

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Elisa

Eu era muito jovem quando os meus pais morreram. Talvez "jovem" seja uma definição muito errônea. Na verdade, eu ainda era um bebê.
Portanto, não me recordo do rosto da mamãe e nem da voz do papai. Eu queria, mas não consigo.

Minha mãe foi a Sarita. Ela me deu amor do jeito que pôde, cuidou de mim o máximo que conseguiu e perdeu noites de sono para me manter tranquila em seus braços.
Isso me fez crescer com a certeza de que não precisamos carregar o sangue de alguém para senti-lo(a) parte de nossa família.

Você pode amar alguém pelo sorriso, pelo acolhimento, pela alegria que essa pessoa traz para a sua vida, ou até por todo o calor que aquece o seu coração em um dia de inverno tórrido.

Aprendi que amor não é sobre laços de sangue, mas sobre como entrelaçamos a nossa alma com a de outra pessoa.

Quando fiquei maior, meu irmão foi o meu porto seguro. Eu sabia que ele moveria céus e terras por mim. Ruggero sempre amou com a intensidade das ondas do mar; seu amor era forte e avassalador, tal qual uma avalanche de água salgada.

Meu irmão foi violentado de muitas formas, mas nunca deixou que sua dor resvalasse em mim. Ele me daria sua vida se pudesse só para que eu não descobrisse sobre a maldade que há no mundo.
Ele sempre foi o meu maior herói. Nossos pais ficariam orgulhosos dele.

Contudo, nem todo o amor do mundo pode te salvar de certas coisas.

Fui violentada de muitas formas quando tinha apenas quinze anos. Tudo o que aconteceu comigo não deve ter demorado mais do que alguns minutos, porém, as sequelas serão eternas.
Passei bastante tempo presa na gaiola que se transformou a minha mente e me desdobrei em dúvidas e perguntas sobre... porque comigo? O que eu fiz de errado? Foi realmente minha culpa?

E depois veio a gravidez...
Eu não queria aquele bebê, mas eu também não queria que ele morresse. Vivi uma luta interna dolorosa até que os medicamentos começaram a me desligar da realidade.

Só a voz do meu irmão despertava em mim algo que ainda permanecia vivo.

Chegou um momento em que eu já nem sabia mais quando estava acordada ou dormindo. Acho que vivi e revivi aquele dia infernal centenas de vezes.
Até que tudo foi voltando aos eixos.

Meu irmão voltou para me salvar!

Karol, sua esposa, havia descoberto sobre a sujeira do Santiago - em comunhão com os médicos corruptos - e assim o Ruggero pôde me libertar.

Eu nunca poderei agradecer a ela o suficiente.
Aquela mulher que nem me conhecia, e que jamais teve culpa de algo, deixou de lado sua própria dor naquele momento para me ajudar.

Por isso, penso eu, resolvi guardar seu segredo.

Ruggero já havia me mostrado muitas fotos dela, assim como a Daiane, portanto não foi nem um pouco difícil reconhecê-la quando entrou aqui na clínica.
Até pensei em contar que sabia quem ela era, mas achei que se ela fazia aquilo, algum motivo tinha.

Doeu no meu coração ver o meu irmão sofrendo, mas parecia muito pior empurrá-la à força para falar com ele. Talvez isso até piorasse as coisas entre eles.

Resolvi confiar que tudo teria seu tempo.

E felizmente os dois se reencontraram.

O problema era que nada estava saindo bem. Ao menos pelo o que a Daiane me contava, tudo ia de mal a pior. Agora até o Alex havia se ferido.
A minha cunhada estava nas mãos de um homem miserável. E isso me fazia ter medo pelo Ruggero, pois ele nunca iria recuar.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now