● Quarenta e Nove - Último

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Elisa estava em um canto roendo incessantemente a unha do dedão. Seu corpo inteiro balançava enquanto ela lançava olhares assustados para a cama adiante onde o irmão estava debruçado, ainda desacordado.

— O senhor tem certeza de que ele está vivo, não é? — Ela perguntou ao médico pela segunda ou terceira vez. Sua voz alarmada. — Já se passaram dois dias, doutor. Dois dias! Porque ele não acorda?

O médico, que checava o prontuário calmamente, já acostumado com o desespero dos familiares dos pacientes, ergueu os olhos para a moça que começava a andar de um lado para o outro, aflita.

— Seu irmão tinha um ferimento à bala muito complicado na perna e precisamos operá-lo, além de inúmeros machucados causados pelo frio, queimaduras... Tivemos que seda-lo fortemente. Ele precisava descansar, senhorita. Fique calma, garanto que ele está vivo.

Mas isso só parecia deixar Elisa mais atordoada.

— E quando ele acordar e...

— Tudo ao seu tempo, mocinha. Tudo ao seu tempo. — O médico afagou o ombro dela antes de sair, deixando a porta aberta para que Daiane pudesse entrar.

Assim que viu a namorada, Elisa correu para abraça-la, relaxando só um pouquinho.

— Falei com a Sarita pelo telefone. — Daiane comentou, desvencilhando-se dela, mas sem soltá-la de fato. — Fica calma, tá? Está tudo bem.

— E como eles estão?

— O Alex está se recuperando bem. Como o médico tinha dito, o desmaio foi mais por causa do clorofórmio que o Davi fez ele inalar do que pela pancada que deu na cabeça dele enquanto os dois lutavam. — Daiane abanou a cabeça. — E a Luna parece bem também. Ela ficou assustada, claro, mas pelo menos está melhorando. O corte na sobrancelha foi superficial e, graças a Deus, aquele monstro não fez nada mais grave.

— É verdade que o machucado dela foi causado por uma queda quando ela tentou fugir do Davi e não... não um golpe dele?

— O Alex disse que sim. Parece que a Luna se soltou do Davi e tentou fugir, por isso se machucou, depois desmaiou. Mas os médicos fizeram exames e não foi nada sério.

Elisa soltou o ar, mais aliviada.

A irmã de Ruggero se sentou no sofá que tinha ali e escondeu o rosto nas mãos, pesarosa. Apesar das boas notícias, odiava ver o irmão tão debilitado, ferido e desacordado. Isso era demais. Parecia que nunca tinha fim.

— A detetive Stella disse mais alguma coisa?

Daiane suspirou, sentando-se ao lado dela.

— Os corpos estão no necrotério ainda. Quando forem liberados, vão avisar.

— Eu fico pensando em quando ele acordar. — Elisa olhou para o irmão. — São tantas coisas para digerir, não é?

— Mas ele tem a todos nós. Somos uma família, ou não?!

Elisa amava a positividade de Daiane, mas conseguia enxergar seus olhos lacrimejantes e o tremor das mãos dela quando envolveram as suas. Daiane era forte, mas não insensível.

— Queria que a Karol...

— Elisa?

De súbito, Elisa sentiu seu corpo estremecer ao ouvir aquela voz. Ela se pôs de pé rapidamente, praticamente correndo até o leito do irmão. Ele estava cheio de curativos, mas ainda era o mesmo; o mesmo irmão que ela amava, que a protegia, que sempre cuidou dela. Seu herói. Sua família.

— Bem-vindo de volta, seu bobão!

Ruggero repuxou os cantos dos lábios num sorriso que era esquisito por causa da leve dormência que sentia, talvez pelos inúmeros analgésicos administrados nas últimas quarenta e oito horas.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now