• Quarenta e Um

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Uma semana depois...

Karol

O gelo deixava a pista lisa, então precisei dirigir com extremo cuidado, estreitando os olhos para não perder nenhum detalhe, atenta aos outros motoristas que dirigiam tão devagar quanto eu.

A neve se acumulava em pequenos montes nos cantos das calçadas e cobria as entradas de carros, amontoando-se sobre o que quer que estivesse pelo caminho.

E quanto mais o pneu derrapava, mais dava a sensação de que pequenos flocos de cristais salpicavam ao redor de todos nós, como uma chuva de pontos coloridos que mudavam de cor a cada vez em que o sol fraco lhe encontrava antes de aterrissar no chão.

Por muito tempo achei que esse não era o meu lugar, tampouco o clima certo para passar o resto dos meus dias, mas agora penso diferente.
Quero dizer, ainda tenho vontade de voltar ao Brasil, contudo, por enquanto, estou bem aqui. E permanecerei bem enquanto a minha família estiver do meu lado.

— Você parece nervoso. — Comento, olhando de soslaio para o homem sentado no banco do carona.

Ruggero está inquieto. Ele olha para o relógio de pulso e depois endireita o sobretudo cinza que escolhi para que usasse hoje.

— É a primeira vez em que vou chegar em casa e a minha filha estará lá. — Ele explica, sorrindo. — Ainda não parece real.

Retiro uma das mãos do volante e levo até a sua, afagando com carinho, mostrando que entendo bem seu entusiasmo e nervosismo.

A última semana não foi fácil. Nós tínhamos conversado com os médicos e eles insistiram em um tratamento paliativo para que ele levasse uma vida confortável até que...
Bom, eles acreditavam que não tinha mais o que ser feito, mas nada disso era o suficiente para me convencer.

Entrei em contato com muitos especialistas nos últimos dias. Eu não ia desistir. Nada me faria perder as esperanças. Enquanto ele respirasse, ainda tínhamos chances.

— Todo mundo vai comer o seu fígado. — Gracejo, rindo. — Tirando o Alex e a Fanny que já sabiam de tudo, posso afirmar que a Sarita, a Elisa e a Daiane estão furiosas por você ter escondido algo tão grave. E só não foram brigar com você no hospital porque preferiram esperar até você sair.

— Talvez se você virar no retorno ali na frente nós possamos voltar para o hospital. Acho que estou ficando tonto.

Abro um sorriso, mas logo reviro os olhos para a brincadeirinha dele.

— Eu também estou irritada com você. É sério, Ruggero. Que droga! Porque teve que esconder? Se eu... se eu tivesse sabido antes...

— Para todos os efeitos você tinha perdido a memória e eu era só um estranho que apanhava na cara sempre que me aproximava. — Rebateu, achando graça.

Apesar de relutante, concordei.

— Mesmo assim. O foda é que eu... eu deveria estar te enchendo de porrada, mas não consigo. Não agora. Acho que posso esperar um pouco mais para deixar vir à tona o meu desespero e a minha raiva.

— Você já brigou bastante comigo no hospital. Acredito que já entendi bem o quanto te magoei por ter escondido sobre o tumor. Mas o fato é que independente da decepção que sinta, não há nada a ser feito.

— É claro que há! — Contraponho com firmeza, virando-me para ele. — Nós vamos achar uma saída. Eu não vou te perder, Ruggero. Não vou mesmo.

Eu já tinha posto na minha cabeça a determinação necessária, além de ter programado e organizado cada próximo passo que daria.
Nem que para isso fosse preciso girar o mundo de cabeça pra baixo. Seja lá aonde fosse, encontraríamos uma cura.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now