• Trinta e Três

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Karol

A porta da sala do Davi estava apenas encostada quando a forcei para que abrisse de uma vez.
Ele não esperava me ver ali, ou talvez até esperasse, mas com certeza não calculou a minha reação.

Davi estava de costas lendo alguns papéis quando me lancei contra ele, puxando-o com toda a força que tinha pelo jaleco.
E assim que ele se virou, desferi dois tapas em seu rosto. Dois tapas que levavam consigo todo o ódio que eu sentia e toda a minha vontade de matá-lo por ser tão traidor e maldoso.

Não que eu me achasse correta por mentir, mas ele não contou a verdade porque queria o melhor. Ele contou porque queria se vingar, porque estava com o ego ferido e porque não amava a mim e a minha filha como alardeava aos quatro ventos.

Quem ama não força o outro a nada, muito menos em uma situação tão delicada quanto essa.

— Você é um monstro! — Gritei exasperada, apontando o dedo para ele. — Eu nunca vou te perdoar por isso. NUNCA!

Seus olhos lançavam fagulhas na minha direção. Um misto de ódio e surpresa. Uma junção perigosa diante dos fatos que estavam sendo externados.

Ele se apoiou na mesa e esfregou o rosto que havia ficado vermelho. Depois bufou, rangendo os dentes.

— Nunca mais faça isso!

— Nunca mais faça isso?! — repeti com perplexidade. — Que tipo de doente é você? Ou melhor, que tipo de idiota sou eu para nunca ter notado o seu nível de maldade e descaramento? Porque está na cara que isso não começou hoje! Assim como todos os outros homens da minha vida você me usou, me viu como sua posse, como se eu tivesse que te amar só porque me ajudou!

— Eu nunca disse isso.

— E precisava?! Será que a sua atitude de hoje já não diz tudo? Você me obrigou a contar algo que não te dizia respeito, que jamais teve a ver com você ou com a história que vivemos nesses últimos anos. Isso foi um golpe baixo e nojento!

— Sol...

— E por mais que eu esteja puta com o Ruggero, ainda assim, ele está em um leito de hospital, está ferido e completamente atordoado com o que aconteceu. Ou seja, que profissional é você que faz isso com um paciente?! Você não respeita nada!

— Ah, eu não respeito nada?! — Reage. — Eu? Pare de jogar para mim as suas merdas! Você mentiu por anos e continuaria mentindo. Não se faça de santa. Além do mais, eu já estava cansado disso. Já era hora de colocar todas as cartas na mesa. Ou não?!

— O que quer dizer com isso? Será que você não percebe, seu estúpido, que agora o Ruggero vai tirar a Luna de mim? Ele está me odiando e quer se vingar do que eu disse! Eu posso perder a minha filha por sua culpa! Sua culpa!

Assim que compreende o que eu digo, Davi recua, franzindo o cenho.

— O quê?!

— É exatamente o que você ouviu! Ou por acaso achou que o Ruggero aceitaria feliz da vida tudo o que eu disse e iria aplaudir a situação? Deixa de ser burro! Ele quer a Luna, ele quer ter uma vida ao lado dela, quer levá-la de mim! E se formos à júri, ele com certeza têm muitas chances de conseguir algo, porque olha a vida que eu levo, olha as merdas que eu me metí! Ninguém iria me entender. Juiz nenhum ficaria do meu lado!

— Não! Não! A Luna não! Ela é nossa filha. Nós a criamos, nós demos amor a ela. Ela é minha filha! Quer dizer, é nossa... nossa filha...

Estreito os olhos e abro um sorriso de puro espanto diante do cinismo dele. Não é possível que ele não compreenda onde eu quero chegar.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now