• Dois

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Quando cheguei aqui na Itália com a Daiane e a Sarita, eu me questionei muitas coisas. A primeira foi se eu deveria voltar à casa que era dos meus pais, afinal apesar de ter sido o meu lar na infância, ainda assim, guarda lembranças horrorosas; contudo, acabei ficando por lá mesmo, porque havia algo muito maior para me preocupar.

A Elisa. A Elisa e o maldito médico que a estava dopando à mando do infeliz do Santiago.

Consegui resolver tudo com a polícia e usei de todos os meus contatos para fechar aquela porcaria de clínica e foder de vez com a carreira nojenta de todos os profissionais que trabalhavam naquele lugar desgraçado.

Muitos pacientes foram transferidos por seus familiares para clínicas melhores; já outros, acabaram recebendo alta, afinal, assim como a Elisa, estavam lá porque alguém os estava pagando para mantê-los ali.

Há pessoas horrorosas em todas as famílias, eu concluí.

Mas no caso da minha irmã, eu a mudei para um lugar melhor. Posso ir a pé numa caminhada agradável de uns quarenta minutos e não preciso me preocupar com trânsito. Então, todos os dias vou vê-la. E como hoje está nevando, decido ir de carro — com a Daiane e o Alex à tiracolo, lógico.

E assim que chegamos, peço para ir na frente ficar um tempinho com ela, pois quando a leitura começa, minha Elisa se perde nas loucuras do Alex e da Daiane e acaba não tendo muito tempo para me ouvir.

— Que menina linda! — Digo, cruzando os braços e me escorando na soleira da porta do quarto dela.

Elisa, que está de frente para o espelho penteado os cabelos, vira-se para mim, abrindo um sorriso tão sincero e tão grande que me contagia imediatamente.

Ela larga a escova de lado e atravessa o quarto, pulando nos meus braços.

Eu a acolho com todo o amor que tenho, abraçando-a com bastante força.

Sempre que eu venho ela me recebe assim. Parece que é sempre a primeira vez que nos vimos. E isso me lembra a nossa infância — os bons momentos.

— O seu cabelo está maior. — Diz, desvencilhando-se. — E gri-salho.

Passo a mão pela minha cabeça e faço uma careta.

— Não está tão grisalho.

— Está... bastante gri...salho.

Cutuco a barriga dela e ela se contorce sentindo cócegas, então se afasta, indo se sentar na beirada de sua cama.

— Você já viu como está nevando hoje? — Aponto para a janela e vou entrando no quarto.

Elisa assente. Ela parece eufórica com o fato de a neve se amontoar no peitoril da janela, fazendo nascer uma espécie de montanha pertinho do vidro úmido que está fechado por causa da friagem.

Minha irmã melhorou bastante nos últimos três anos.

Para começar, agora ela anda, consegue se mover com bastante naturalidade, come sozinha, já fala bem melhor, apesar de ainda ter um pouco de dificuldade em alguns momentos; no entanto, em comparação a antes, é como se ela estivesse, de fato, curada.

Foi um completo baque de alegria quando a escutei falando o meu nome depois de tantos anos.
E a cada melhora dela, eu me sentia renascer.

Suas vitórias foram lentas, mas só mostraram como ela estava determinada a ficar bem.

A voltar a ser a minha Elisa de antes. Quer dizer, uma Elisa muito mais feliz.

E em breve receberá alta, pelo menos é isso o que os médicos dizem.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now