• Trinta e Sete

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Karol

Eu sabia que chegaria o momento em que seria inevitável o reencontro da Luna e do Ruggero, contudo, paraliso, observando-o de mãos dadas.

Sempre estive consciente da semelhança física dos dois, mas agora, vendo-os lado a lado, fica nítido como são parecidos, e não só por fora, mas principalmente por dentro.

— Eu não quero brigar. — Ruggero diz com a voz firme, me fitando nos olhos de um jeito que me deixa desnorteada. — É a nossa filha, Karol. Ela precisa de nós dois. Sem brigas. Sem desentendimentos. Só do nosso amor.

Hesitante, desvio o olhar, encarando a minha melhor amiga que sorri pra mim, afirmando com um maneio de cabeça; em seguida, olho para Elisa.

A Elisa parece refeita, emocionada, mas feliz também.
Até sua fisionomia mudou. Ela sempre foi belíssima, mas agora parece ainda mais radiante. E de certo modo me dá uma paz profunda saber que ela conheceu a sobrinha.

No fim das contas são as pessoas mais inocentes de toda essa história.

— A Luna é perfeita. — Daiane diz. Sua voz está embargada. — Você fez um ótimo trabalho, minha amiga. Eu sempre soube que você seria uma grande mãe.

Aperto os lábios. As palavras fogem de mim. Sinto que vou chorar, mas me seguro o máximo que consigo.

É a minha família, não é? É exatamente o que eu sonhei por anos.
E nos dias mais difíceis quando tudo parecia desmoronar, era nisso que eu me segurava. Sempre existiu uma esperança viva que me guiava a continuar, como se fosse tudo programado para chegar a esse momento.

O momento de ser feliz.

Abano a cabeça, afastando os pensamentos.
Não posso pensar em felicidade agora. Isso ainda não acabou. Nada está certo.

— Não é seguro estarem aqui. — Murmuro. — A Luna precisa subir. Nós duas precisamos, na verdade.

— Subir? Karol, você não escutou o que eu disse? — Ruggero retruca, buscando o meu olhar. — Vamos embora. Não há nada aí para vocês. A Luna precisa de nós dois juntos. Esquece o que aconteceu e o que nos trouxe aqui. O que importa é a segurança da nossa menina. Só isso.

— Você não entende. — Digo, aproximando-me. — Não importa aonde estejamos. Ele não vai parar. Ele vai vir atrás de mim até no inferno, porque eu sou um perigo. O Vincenzo me quer no radar dele. Esse é o nosso acordo.

— Acordo?! Mas que acordo, Karol? Olha pra mim! Me diz, que acordo é esse?

— Ruggero, não... por favor!

— O que ele te fez prometer, hein? — Insiste. — O que aquele monstro acordou com você para que você tenha tanto medo de não obedecê-lo?

— Isso não importa!

— Tudo importa. — Elisa fala, tocando no meu braço. — Karol, não nos deixe fora de nada. Somos a sua família. Nós vamos te ajudar. Você não está mais sozinha.

Sacudo a cabeça. As malditas lágrimas faz meus olhos arderem.

— Essa não é a questão...

— Eu nem posso imaginar o inferno pelo qual você passou, mas independente disso, você conseguiu. Você manteve a Luna segura até agora. Olha pra ela, Karol. A minha sobrinha é uma menina linda e saudável. E isso é graças a sua força. Mas agora, neste momento, nós estamos aqui. E você não precisa mais fazer tudo sozinha.

Engulo o nó que se forma na minha garganta. A Luna está me fitando com atenção, mesmo que não entenda a situação.
Ela continua segurando na mão do pai.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now