• Vinte e Oito

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Ruggero

— Eu já disse que me sinto bem.

— Você já repetiu isso várias vezes, mas eu vou continuar dizendo que vamos obedecer aos médicos e vamos te manter em repouso!  — Sarita murmura enquanto me ajuda a sentar no sofá da sala da mansão.  — O Alex disse que mesmo recebendo alta você precisa de cuidados.

A contragosto me recosto contra as almofadas e a observo andar de um lado para o outro com a mochila que eu trouxe.

— Sarita, você não precisa bancar a babá. Sou um homem feito, tenho consciência do que os médicos falaram e, sinceramente, eu preferia ficar sozinho para pensar.

— Pensar ou aprontar?!  — Ela retruca, parando para me encarar.  — Ruggero, eu sei que os últimos anos não foram fáceis, principalmente os últimos dias, mas você precisa agir como um adulto e medir as consequências dos seus atos, porque já perdemos muitas pessoas importantes. Acho que... está na hora de pensar em todos os que te amam e menos nessa sua obsessão maluca de lutar contra o mundo.

— Olha, eu sei que você tem razão, mas a Karol...

— Há muitas formas de tê-la de volta. Mas nenhuma dessas formas é se colocando em risco.  — Sarita deixa a minha mochila perto da mesinha de centro e pega algumas pastas que estão por ali.  — Além do mais, você tem uma grande empresa para comandar, filiais ao redor do mundo, centros de reabilitação, abrigos... São muitas responsabilidades, Ruggero. Está na hora de voltar ao mundo real.

Com cuidado, Sarita deposita todas as pastas no meu colo.

Eu encaro tudo e abaixo a cabeça.

— Tenho pessoas capacitadas que estão tomando conta de tudo.

— Mas nenhuma delas é você. Você é o dono. Você carrega o sobrenome do homem que fundou as construtoras. O seu pai, Ruggero, lutou muito para ter tudo isso, para garantir o melhor para você e para a Elisa. E não é justo que abandone tudo nas mãos de terceiros.

— Eu sei...

— Não param de chegar papéis, projetos e telefonemas de gente precisando da sua aprovação. E você vai amontoando tudo no escritório. Talvez seja um bom momento pra rever tudo e assumir as suas responsabilidades.

Passo as mãos pelas pastas.

— Eu sei que venho negligenciando tudo. Mas, Sarita, é por um bem maior.

— E eu acredito, meu filho.  — Ela se agacha na minha frente e toma minhas mãos nas suas.  — Eu te conheço desde sempre. Não dei a vida a você, mas eu sinto que você é uma parte minha, assim como a Elisa. Portanto, me sinto no direito de te aconselhar. E sei como ama o seu trabalho, portanto, pense mais sobre isso. Trabalhar pode te ajudar a tomar o rumo da sua vida de novo.

Abano a cabeça para cima e para baixo.
Ainda sinto dores no meu rosto e nas pernas, ainda estou ansioso, pensativo e decidido a virar esse jogo, mas uma parte minha sabe que a Sarita está mais do que certa.

Se vou morrer, como sei que vou, não posso deixar a minha irmã desamparada, nem a própria Sarita, muito menos a minha esposa.

Preciso ficar bem por todas elas. Tenho que ser o homem de antes. Em algum lugar do meu ser ainda há a força que tive anos atrás. Só preciso reencontrá-la.

— Eu posso te pedir uma coisa, Sarita?

— Claro, filho, pode falar.

Trago suas mãos até os meus lábios e as beijo, com todo o amor que tenho por ela.

Fuego En La Sangre - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora