• Trinta

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Sol

— Não é um bom momento para isso. — murmuro olhando por cima dos ombros. Daqui consigo ver a janela do apartamento onde a minha filha está e de onde eu preciso tirá-la antes que o Davi faça outra gracinha. — Escuta, talvez seja melhor...

— Talvez o melhor seja você deixar de se fazer de desentendida e falar de uma vez a verdade, Karol. Acabou a farsa. Olha pra mim e seja sincera. Eu estou pedindo.

— Essa não é a questão. — Aproximo-me dela e a empurro ligeiramente para o canto, perto de alguns carros que estão estacionados por ali. — Eu estou em um momento complicado, Daiane. E eu já falei com o Ruggero. Preciso de tempo e da compreensão de vocês. Por favor.

Ela se empertiga. Sempre teimosa. Parece uma mula.

— Tempo?! Que tempo, Karol? Já se passaram três anos, caramba! Três anos! Você não vê que está nos deixando malucos? — retruca me fitando. — Anda, fala comigo, pode se abrir. Me conta o que está rolando. Porque eu sei que você não perdeu a memória coisa nenhuma.

Estou prestes a retrucar suas palavras quando vejo Fanny descer de um taxi. Eu tinha marcado com ela. Íamos nós três ver o apartamento; ela, a Luna e eu.

— Fanny...

— Ah perfeito! — Daiane guincha assim que a vê. — Ótimo! Bem quem eu queria ver. Vem, nova melhor amiga dela, pode se aproximar. Eu sei que você sabe de tudo. Não sou burra, Karol. Isso daqui está muito claro pra mim.

— Daiane, por favor!

— Karol, ou você fala abertamente comigo ou eu vou fazer um escândalo tão grande que até o presidente vai vir aqui reclamar do barulho! E você sabe bem que eu sou capaz disso!

Sei perfeitamente que ela é passível de fazer algo assim.

Troco um olhar com Fanny. Minha companheira de trabalho contrai o rosto como se pudesse sentir a mesma aflição que eu sinto.

Fanny me compreende. Ela sabe como é perigoso arrastar mais gente para a nossa realidade. Contudo, quando olho para a Daiane, eu enfraqueço. As melhores lembranças da minha vida são com essa maluca colorida. Ela é a minha irmã de alma, a pessoa que largou tudo para vir atrás de mim com o Ruggero...

Só uma amiga de verdade faria algo assim.

— É melhor sairmos daqui. — Sibilo ao perceber que há um carro suspeito estacionando na rua. — Se você quer saber tudo, eu vou te contar. Mas, por favor, vamos sair daqui.

Ela segue meu olhar de um jeito nada discreto e também nota o veículo e os caras que estão dentro — nos observando, claro.

— São capangas do Vincenzo? — Indaga.

— Claramente. — Fanny responde. — Esse filho da puta virou a nossa sombra.

— Mas e agora? Se sairmos eles não irão atrás de nós?

Assinto, irritada. Malditos!

— Vocês vão. — Fanny diz sem mover muito os lábios, com o olhar direcionado ao carro. — Há uma igreja velha atrás da praça principal da cidade. Podem se misturar aos turistas.

— Mas e você?

— Bom... — Ela ajeita o decote do vestido que está usando e passa a língua pelos lábios, piscando o olho para a gente. — Eu vou distrair os rapazes. Daqui a pouco eu encontro vocês lá.

— Fanny, não!

— Sol, está tudo bem! — Ela se desvencilha da minha mão e abre um sorriso que sei que não é verdadeiro. — Eu vou conversar com eles, distraí-los um pouco. Nada que eu já não tenha feito antes, você sabe.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now