• Dezesseis

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Sol

Nos últimos anos Davi e eu tivemos poucas discussões. Contudo, enquanto eu o espero voltar do hospital, perambulo de um lado para o outro da sala com o chaveiro de borboleta na mão, exalando tantos sentimentos que mal consigo entende-los, pois todos me atropelam de uma vez.

Luna já dormira e foi um sacrifício arrancar a borboleta da mão dela, mas eu precisei fazer isso.
Esse objeto significa coisas demais, principalmente agora que tantos anos se passaram e Ruggero voltara a surgir no meu caminho.

Até parece que o destino quer brincar comigo.

- Cheguei, família! - Ouço meu companheiro de casa dizer assim que bate a porta.

Escuto o barulho de suas chaves sendo postas no aparador e consigo imaginá-lo arrancando os tênis e deixando-os no canto da parede - como sempre. Davi é um homem extremamente organizado, metódico, acostumado a ter a vida limpa e minimamente ordenada, como seu centro cirúrgico.

Antes que ele entre na sala já consigo sentir o cheiro de hospital que o persegue sempre que vem de lá; um aroma asséptico como uma mistura de álcool em gel e sabonete bruto.
Esse odor já se tornou familiar para Luna e para mim; é quase como se representasse segurança para nós; contudo, neste momento, sinto meu corpo inteiro se arrepiar de irritação.

- Sol! - Ele guincha quando acendo a luz do abajur. - Caramba, que susto!

Cruzo os braços, avaliando-o.

Seus cabelos estão úmidos, pois sempre toma banho lá no hospital ante de voltar. Está usando uma camisa polo branca e calças da mesma cor; as meias são azuis, combinando com o casaco grosso que veste.

Ele deixa sua pasta e o jaleco sobre o sofá, olhando-me.

- Aconteceu alguma coisa? - Indaga.

- O que é isso, Davi? - Estendo a mão com o pingente posto sobre a minha palma. - Porque a Luna estava com esse chaveiro?

Sua face se franze enquanto fita o objeto, mas depois vai suavizando até que um sorriso franco se forme em seus lábios.

- Ah, ela ganhou de um rapaz no parque. Legal, não é?

- Legal?! O que deu na sua cabeça para deixar a minha filha aceitar... aceitar um presente de um homem que ela conheceu no parque sem mais e nem menos?!

- Você está irritada com isso? - Retruca arqueando as sobrancelhas em clara demonstração de surpresa e isso me irrita mais. - Sol, é só um enfeite bonitinho. A Lulu gostou e ficou feliz. Qual é o problema?

- Qual é o problema! - Jogo as mãos para cima, exasperada. - O problema é que você deixou a minha filha a mercê de um estranho. Por acaso não é o suficiente para que eu fique furiosa? Davi, ela só tem três anos! Será que não entende o quanto isso é perigoso?!

- Sol, pelo amor de Deus, eu estava lá!

- E daí? - Rebato correndo as mãos trêmulas pelos cabelos. - Você devia tê-la colocado no colo e trazido de volta para casa.

- Do nada?! - Ele abre os braços e encolhe os ombros. - O cara ia pensar que eu era um maluco se a arrancasse dele para trazê-la como uma fugitiva para casa.

- Espera... você deixou... deixou ele pegar na Luna?! É isso? Ele a colocou nos braços por acaso?

- Você fala como se eu tivesse abandonado a Lulu com ele e ido dar uma volta por aí. - Guincha. - Eu estava lá. Você ouviu quando eu disse que fiquei lá?! Além do mais, o cara foi super legal com ela. Não aconteceu nada!

Fuego En La Sangre - Livro 2Место, где живут истории. Откройте их для себя