• Doze

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Ruggero

Eu já tinha tido inúmeros sonhos com a minha esposa. Vários, mesmo. Sonhei com tantos cenários e momentos que compunham a nossa história e me via acordando com uma sensação horrorosa de pânico e saudade.
Contudo, dessa vez, quando abro os olhos, ela está realmente aqui.

- Graças a Deus! - Ouço-a guinchar, passando a palma da mão pelo meu rosto. - Você consegue se levantar? Ei, está me ouvindo?

Bato os cílios. Pingos e mais pingos de água gelada açoitam a minha face e preciso fechar os olhos um pouco. Estou na rua. PUTA QUE PARIU, EU DESMAIEI DE NOVO! QUE PORRA!

Atabalhoadamente tento me levantar, mas suas mãos me agarram.

- Eu estou bem. Estou bem. - Olho em volta. Estou sentado no chão ao lado do meu carro. - Está tudo bem. E-eu... O que está fazendo aqui?

- Me diz você o que rolou. - Rebate. Ela está de joelhos no asfalto. Os cabelos molhados caem sobre a testa e os ombros. - Você despencou no chão feito um saco de batatas. E foi absolutamente do nada.

Esfrego as têmporas. A dor de cabeça já dá sinais.

- Eu... foi uma queda de... queda de pressão.

- Queda de pressão? E queda de pressão faz isso? Você está pálido, cara.

Encaro-a e apesar de tudo, sorrio.

- Está preocupada comigo?

Ela estala a língua com desdém e abana a cabeça.

- Estou com pena de você. É diferente. - Destila sua dose de veneno. - Primeiro você me perturba dia e noite por causa de um passado que eu desconheço, depois fala da sua filha, do seu casamento, de um monte de tragédia e, agora, cai estatelado no chão. - Ri, zombeteira. - Está doente, por acaso?

Abro um sorriso e quase deixo os meus instintos ganharem a partida; tudo em mim quer tocá-la e simplesmente se esquecer do resto do mundo, da tempestade que cai sobre nós, da minha doença, da morte...

-Você acredita em vida após um grande amor?

- Eu não est...

- Você perguntou se eu estou doente. E sim, eu estou. Eu adoeci de amor. - Desvio o olhar. O mundo está desabando em chuva, mas apesar do frio intenso, não nos movemos. - Viver após um amor como aquele que tivemos não é fácil. Não é nem vida na verdade, é apenas nadar contra a maré sabendo qual será o final disso tudo.

- Ruggero...

- Eu nunca te culpei por nada, porque eu sei que você estava certa. Mas... - deixo a minha mão cair sobre o meu colo. Apoio as costas no pneu do carro. - Você se esqueceu de tudo e eu... eu fiquei aqui. Eu nunca me esqueci. Eu jamais vou me esquecer.

- Eu não posso fazer nada. - Balbucia. Seus lábios tremem de frio. - O que acha que...

- Eu não acho nada e nem estou pedindo que faça alguma coisa. - Rebato. - Apenas me deixe te reconquistar. Deixe-me te mostrar tudo o que vivemos, os pequenos detalhes... Eu estou disposto a tudo, Karol. Só imploro que me dê uma pequena esperança, por favor.

Vejo seus olhos se estreitarem. A água que cai do céu escorrega pelas reentrâncias de seu rosto delicado. Noto uma centelha de luz atravessar seu olhar, mas é muito breve, pois ela logo se fecha em uma escuridão assombrosa.

Eu engulo em seco, estremecendo de frio e desespero.

- Já tenho alguém em minha vida. - Fala. - E eu o amo. E não há nada que possa fazer em relação a isso, porque a gente não escolhe por quem se apaixona. Simplesmente acontece e pronto, e não são as suas palavras que vão mudar algo, porque o meu coração já está preso ao de outra pessoa para sempre. Até o meu último suspiro.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now