• Dez

227 40 417
                                    

Sol

Eu sempre ouvi que a vida humana não tinha preço e que era um absurdo pensar em algo assim, contudo, devo dizer, os últimos anos me provaram que isso não se aplica a todo mundo.

No meu caso em específico, a minha vida vale muito. Uns bons milhões de dólares.

E Vincenzo me lembra disso constantemente.

Aquele velho filho da puta!

Quando o maldito táxi capotou a três anos atrás eu pensei que iria morrer. Realmente cogitei que aquele era o meu fim, porém, por arte de Deus ou do diabo, eu consegui me salvar. Consegui pular do carro antes que ele despencasse do despenhadeiro e explodisse.

O único problema foi que sai dos braços do fogo diretamente para os braços do diabo.

Os capangas do Vincenzo que estavam nos seguindo me resgataram e como eu estava inconsciente sequer pude me rebelar e gritar. Apenas fui pega por eles e levada para o hospital onde fiquei em um coma profundo por três longos meses.

Eu havia levado uma pancada muito comprometedora na cabeça e tinha tido uma grave hemorragia cerebral. Ninguém cogitava que eu sobreviveria. Precisei passar por uma cirurgia de emergência para reduzir a pressão no cérebro e me salvar, entretanto, isso colocou a vida da minha bebê em risco severo.

O fato era que nenhuma de nós duas deveria ter saído viva. Mas não foi o que aconteceu...

Qualquer um diria que foi um milagre. Mas eu não. Eu acho que foi um castigo. Não pela Luna, claro, mas por mim. Pois assim que despertei, Vincenzo foi me visitar. Ele se apresentou como sendo da minha família e como tinha todos os meus documentos em sua posse, acreditaram — ou talvez ele tenha pagado muito bem para acreditarem. Não faço ideia. A única coisa que sei é que o seu rosto foi o primeiro que vi após meses entubada.

E seu aviso foi direto: Eu devia a minha vida e a vida da minha filha a ele, portanto, teria que pagar com juros por todo o dinheiro gasto e pela sua "benevolência". Vincenzo me queria até que eu quitasse toda a dívida que, supostamente, contraí.

Eu fiquei de mãos atadas...

Meu corpo se encontrava muito debilitado, eu tinha certa dificuldade para falar e andar, então precisei de muitas sessões de fisioterapia — o que aumentou os malditos gastos —, sem contar que ainda tinha fonoaudióloga, obstetra...
Eram inúmeros especialistas que eu precisava caso quisesse seguir com a minha gravidez que já entrava em sua reta final. A minha filha estava muito abaixo do peso e corria sério risco de nascer morta ou com alguma séria deformidade por causa do acidente, então... o que eu podia fazer? Ninguém me ouvia ou acreditava em mim.

Todos estavam comprados pelo Vincenzo.

Todos... exceto o médico que já havia cruzado o meu caminho antes de eu pisar naquele hospital.

O neurologista que foi remanejado para o hospital onde eu estava por causa que um dos médicos havia sofrido um infarto fulminante e acabou falecendo.
Davi. Davi Ávila. O "passageiro" do táxi que eu peguei e que acabou capotando.

Quando eu o vi o reconheci prontamente. Mas ele não. Ele demorou um pouco para juntar os pontos, na verdade.
Davi sequer estava no meu caso, mas eu o abordei certo dia quando estava caminhando pelos corredores do hospital ao lado de uma enfermeira — uma rotina armada pela minha fisioterapeuta para que eu alongasse os músculos —, e assim que eu o vi, lembrei-me imediatamente de sua ajuda no outro dia.

Eu quase chorei por ver um rosto conhecido.

Ele, em contrapartida, não pareceu entender nada.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now