• Trinta e Dois

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Sol

- Davi, eu não entendo. Para onde estamos indo?

Ele, que caminhava a passos largos na minha frente, parou perto do fim de um corredor ligeiramente silencioso onde só os funcionários do hospital tinham permissão para estar.

Dei uma ligeira olhada em volta e percebi que estávamos perto da enfermaria, contudo, o silêncio que ele guardava me deixava com um medo horroroso.

- Eles sofreram um atentado. - Falou, virando-se para mim. Em sua face não existia nada além de um cansaço explícito. - Acho que você já sabe que não foi exatamente um simples engano.

Titubeei, mas assenti.

- Foi o Vincenzo. Ele já sabe quem o Ruggero é e tudo o que fomos no passado. Quer dizer, sabe o resumo de tudo.

- Eu imaginei. Isso explicaria o seu medo constante. Era por isso, não era? Você tinha receio de que algo acontecesse com o Ruggero por causa desse amor maldito que nunca esqueceu!

- Davi, por favor, agora não!

- Não se preocupe, Sol. Não se preocupe, porque eu não vou questionar você. - Rebateu amassando entre os dedos a toca de tecido que usara na cirurgia. - Não dá para simplesmente parar de amar, não é? Talvez nem a morte faça isso.

- Nem a morte?! Davi, o que...

- As coisas nunca são como queremos. - Sibilou me dando as costas, prosseguindo sua caminhada. - Às vezes não adianta lutar, porque o destino é mais forte.

Confusa, fui atrás dele, andando depressa para acompanhá-lo. Eu não compreendia um terço de sua charada sem pé e nem cabeça.

Tampouco fazia sentido o pesar com o qual falava.
Sua voz estava carregada de tantos sentimentos desencontrados que eu não conseguia interpretar como bom ou ruim.

- Davi! Davi, o que você está querendo dizer, afinal de contas?! Hein? Anda, fala de uma vez! Como o Ruggero está? O que aconteceu com ele? Fala, seu infeliz!

Espalmei as mãos contra seu peito assim que ele parou e se virou, empurrando-o.

Davi não se defendeu. Ele apenas cambaleou para trás, esbarrando contra uma porta. Seus olhos estavam baixos, mas sua face não me dizia nada, então lhe empurrei de novo, irritada e assustada.

- Fala! Diz de uma vez o que houve! Eu quero que me diga o que aconteceu com o Ruggero! - esbravejei mesmo sabendo que era errado gritar ali. - Se você quer me fazer sofrer e me punir por alguma coisa, tudo bem, vá em frente, mas não mexa com esse ponto da minha vida porque eu não vou suportar! Apenas seja um profissional e me fale o que aconteceu!

- Você quer mesmo saber?! Por acaso esse seu coração apaixonado está pronto para saber?! Hein, Sol? Ou eu deveria te chamar de Karol? Sabe que, pensando bem, eu já nem sei mais quem você é?!

- Ah, vá para o inferno! - Levei as mãos à cabeça. As lágrimas venciam e escorriam pelo meu rosto. - Ele é o homem que eu amo e eu tenho o direito de saber o que aconteceu! EU O AMO! EU O AMO E... e eu o perdi... Eu o perdi... Não! Não! Eu não posso perdê-lo!

- Você o perdeu no dia em que fugiu do Brasil, quando o colocou na cadeia e mentiu sobre a Luna! Será que não entende que não há saída para as suas mentiras?!

- CALA A BOCA! - Gritei, e imediatamente o esbofetiei. - Nunca mais se meta nisso. NUNCA MAIS! Você não entende o que passamos. Você nunca vai entender porque nunca vai amar e nunca será amado da forma que eu e Ruggero nos amamos! Nunca, Davi, nunca!

- Ah, é?

- É claro! Porque você não é uma boa pessoa como eu pensava. Eu estou farta dos seus joguinhos e das suas merdas! Eu exijo falar com um médico de verdade que possa me dizer o que aconteceu. E não quero mais que chegue perto de mim!

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now