• Quarenta e Dois

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Um mês e meio depois...

Karol

Por muitos anos eu perdi a esperança de que coisas boas ainda poderiam acontecer comigo. A parte boa era que eu estava totalmente enganada. E é só quando estamos ao lado de quem realmente gosta de nós que entendemos o real significado de felicidade.

Não que seja fácil suportar as adversidades da vida, mas de um modo um tanto reconfortante, percebi que por mais que os médicos deem poucos dias ao meu marido, ele parece estar fazendo o caminho inverso.
Quer dizer, é fato que a dificuldade em se locomover vem aumentando, mas isso não o impede de nada, muito pelo contrário, o deixa mais ávido por melhorar, por se superar.

Ruggero tem sido implacável no trabalho. Ele vai praticamente todos os dias até a construtora, assina projetos belíssimos e visita os canteiros de obra, sempre à frente de equipes enormes e extremamente preparadas.

Em nenhum momento meu marido parece um homem condenado à morte e por isso eu continuo acreditando em sua melhora; apesar de que os exames apontem outra realidade.

Não sou capaz de acreditar que temos os dias contados.

Para mim é impossível colocar um limite em nossos sentimentos.

Além do mais, a Luna está cada vez mais apegada a ele. Até para a empresa ele a leva. A nossa filha se tornou o xodó de todo mundo lá. As pessoas a rodeiam, impressionadas com seu carisma. E é um consenso geral de que um dia a nossa menina irá ocupar o lugar do pai, pois apesar de ser tão pequena, já fica maravilhada com esse mundo, principalmente com as maquetes e os desenhos das casas.
Acho que é um dom.

Não posso estar mais orgulhosa do rumo que a nossa família está tomando.

Inclusive, após recuperar todos os meus documentos e a minha autoridade como cidadã, dei entrada em muitas papeladas que me deram o direito de voltar a atuar na minha carreira; e como a três anos atrás, estou novamente à frente do setor jurídico de todas as construtoras que são do meu marido.

Foi bom voltar a ser a profissional que tanto batalhei para me tornar. Isso me faz sentir mil vezes mais viva.

Sem contar que fiquei sabendo pelo Ruggero que ele não fechou ou vendeu o consultório que era da minha família no Brasil. Na verdade, meu marido transformou o lugar em um setor para atendimento público. Lá as pessoas podem ser auxiliadas em seus casos sem precisar pagar nada. São os melhores profissionais do país dispostos a seguir em frente com processos arquivados por falta de comprometimento da defensoria pública ou porque os reclamantes não tinham condições de pagar por um bom atendimento.

Mesmo sem saber se eu estava viva, e até mesmo após eu tê-lo colocado na prisão apesar de sua inocência, Ruggero passou os últimos anos batalhando para transformar o meu maior sonho em realidade. Finalmente o projeto que eu tanto almejei estava funcionando, ajudando várias pessoas.

E uma das coisas mais impressionantes — ao menos pra mim — foi saber que a minha mãe o havia autorizado a seguir com isso. Pois como ele não sabia aonde eu estava, Ruggero precisou entrar em contato com ela e, de boa vontade, minha mãe assinou tudo o que era necessário para que o setor funcionasse plenamente.

Minha mãe, pelo o que fiquei sabendo pela Daiane, passou muito tempo em Londres na casa de uns conhecidos, ajudando em muitos projetos sociais. Só isso parecia lhe dar um pouco de paz após o meu sumiço tão repentino e a morte do monstro do meu pai.

Mamãe não era do tipo de mulher que conseguia ficar sozinha, portanto a súbita solidão lhe fez perder o rumo. A parte boa foi que ela se encontrou nas causas nobres; e assim, talvez, tenha tirado um pouco o peso que carregava por ter sido completamente omissa no passado.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now