• Quatro

244 42 270
                                    

— O quê?! C-como... como você... Porra, Ruggero! Olha pra mim!

— Está tudo bem, calma.

— Não! — Alex agarra os meus ombros e me faz olhá-lo. — Não está nada bem. Não está certo. Você entende? Não, Ruggero! A gente precisa fazer alguma coisa. Tem um monte de médico por aí, talvez um deles...

— Alex. — Forço um sorriso, fitando-o. — Não há nada o que fazer. Está muito avançado.

Meu amigo se afasta de mim. Ele dá alguns passos na direção da boate e depois volta, entrelaçando as mãos atrás da nuca como se subitamente precisasse se mexer e tomar distância para assimilar o que foi dito.

E eu o entendo. Entendo perfeitamente, e por isso escolhi guardar essa informação pelo tempo que pudesse.
Já há sofrimento demais permeando os assuntos que me envolvem para colocar mais essa pá de problemas em cima.

É muito complicado e doloroso.

— Quando soube disso?

Cruzo os braços, encostando-me ao carro.

— Há mais de dois meses.

— Quê?! — Alex guincha sacudindo os braços com força. — Você não podia ter escondido, Ruggero! Nós somos a sua família, porra! Como... como pensou que poderia guardar uma merda dessa? Tem a porra de uma bomba-relógio dentro da sua cabeça e... e vai explodir.

— Que exagerado. — Gracejo para amenizar seu estado de nervos, mas ele não ri.

Alex parece furioso e magoado; ou talvez só esteja apavorado.

— Não tem graça, Ruggero. — Resmunga tirando a chave do carro de dentro do bolso do sobretudo que está vestido. — Não é certo. Além do mais, tínhamos o direito de estar com você, de dividir isso tudo e de lutar.

— Lutar para quê? Os meus exames foram mandados para outros médicos ao redor do mundo. Ótimos especialistas estudaram a minha situação, mas todos possuem a mesma opinião. — Explico dando de ombros. — As coisas são como são e pronto.

— Sabe o que é foda nisso? Que você simplesmente está fazendo o que fez na primeira vez em que descobriu esse maldito tumor.

— Na primeira vez a Elisa estava em um péssimo momento e eu não tinha o direito de...

— De se mostrar frágil e de aceitar a ajuda de quem te ama? — Retruca arqueando uma sobrancelha.— Você não está sozinho, Ruggero, pare de agir como se estivesse, porque está magoando quem te ama.

Abro a boca para respondê-lo, mas Alex simplesmente destrava o carro e entra, ligando-o.

O motor faz um barulho alto e o capô começa a vibrar contra as minhas costas, então me afasto, observando os faróis acenderem.

Esfrego os olhos e depois fito a boate.

Karol...

Aperto os lábios e penso em voltar lá, mas sei que a confusão será maior. Porém de forma alguma vou desistir. Eu vou encontrá-la de novo. Eu vou tirá-la desse lugar nojento e recuperá-la.

Nem que seja a última coisa que eu faça.

Com o corpo congelando de frio apesar da roupa pesada que visto, volto para o carro e afivelo o cinto, deixando que o silêncio faça seu papel em acalmar meu amigo que conduz o veículo em que estamos. Ele parece tenso. Alex tenciona o maxilar vez ou outra e apura a visão para enxergar melhor.

Noto como segura o volante com força e sei que uma hora ou outra vai me dar outra bronca.

Ultimamente todo mundo se acha no direito de me passar sermão.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now