• Vinte

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Sol

Um ruído de alívio salta discretamente dos meus lábios quando abro a porta do apartamento e percebo que nem a minha filha e nem o Davi estão. Menos mal.
Já bastou o Ruggero aparecer do nada como se, de alguma forma, pudesse imaginar o maldito calvário que Vincenzo me atirou nas últimas horas em que estive em sua posse.

Meu lado apaixonado quer acreditar que meu marido sente o meu sofrimento e vai me tirar disso; mas o lado sensato, aquele que morre de medo de que uma tragédia aconteça, implora a Deus que Ruggero se mantenha distante.

Mesmo querendo odiá-lo, não suportarei vê-lo morrer.

Deus, acho que eu morro junto!

— O seu marido é um homem realmente persistente, Sol.

Não preciso me virar para saber que Vincenzo está dentro do apartamento também.

— Eu o mandei embora.

— E ele vai voltar, certamente.

— Ele não tem porque fazer isso. — Acendo as luzes do corredor e fito a porta do quarto da Luna. — Já encerrei o meu ciclo com ele. Ruggero precisa entender que agora acabou definitivamente.

— Nem você acredita nisso. — Ele diz, escorando-se na parede de frente para os espelhos. — Não acha uma bela história de amor?

— Não.

— Que falta de sensibilidade. — Me acusa, seguindo-me até a última porta do corredor. — Porque vocês se separaram?

— Porque ele me enganou.

— Traição?! Uau, por essa eu não esperava.

— Ele não me traiu com outra mulher. — Sinto a necessidade de esclarecer. — Ele me contou muitas mentiras e eu descobri.

— Todo mundo mente, meu bem. Será que você não foi muito dramática?

Olho-o por cima do ombro enquanto giro a maçaneta da porta do quarto da minha filha.

— Ruggero me usou, Vincenzo. E eu já estou farta de homens imbecis na minha vida.

— Aí! Eu senti uma pontada de mágoa na sua voz.

— Mágoa é pouco para o que eu sinto com relação a isso tudo. — Pigarreio, aprumando a postura. — Nos últimos anos o único sentimento que me permiti sentir foi o ódio. Você deve ter notado isso, afinal é um chefe muito empenhado em conhecer os funcionários.

Ele ri bem atrás de mim.

— Acho que você não fez questão de esconder a ira que permeia o seu sangue. E isso é uma pena... o ódio é um péssimo conselheiro.

— E desde quando você entende sobre isso?

— Tem razão. — Murmura passando por mim para ir até a cama da Luna. — Eu só quis palpitar um pouco nisso tudo, sabe? É uma história realmente interessante. Porque para um homem continuar tão determinado a ter uma mulher de volta, com certeza ainda há muito amor.

Respiro fundo e ignoro o fato de ele estar deitado sobre os lençóis da minha menina, brincando distraidamente com um dos ursos de pelúcia dela, deixando rastros de maldade no cômodo mais importante da casa.

Quero gritar de ódio, mas me contenho.

— Está tudo aqui. — Sibilo, agachando-me na frente de um baú rosa que fica no canto da parede com as colchas coloridas da cama da Luna. São colchas grossas e pesadas que ficam logo em cima de um compartimento falso onde guardo os papéis que consegui roubar. — Eu vou te entregar tudo.

Fuego En La Sangre - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora