Ruggero
Dizem que quando você está à beira da morte um filme se passa diante dos seus olhos e toda a sua vida começa a fazer algum tipo de sentido.
Romantizam a morte como se ela fosse um anjo que te guia pela mão até um ponto infinito do universo onde você irá se resguardar e esperar pelo momento em que terá paz.Eu sempre pensei na morte. Desde criança, para ser sincero.
Quando os meus pais morreram, quando o Luigi me molestou, quando a Elisa foi abusada, quando eu planejei a minha vingança e quando perdi a minha esposa por causa das mentiras. Pensei, inclusive, quando soube da morte da minha filha.
Contudo, neste instante, a morte parece quase palpável e pela primeira vez não quero pensar sobre ela. Não a quero. Não estou pronto.Por isso, teimando, seguro o volante do meu carro e deixo o celular cair no chão do veículo. Ouço-o tocar diversas vezes, mas não posso atender.
Preciso ser mais rápido.Meu pé afunda no acelerador e meus olhos se fixam na estrada lisa. Uma parcela generosa de chuva está caindo e a neve começa a invadir a estrada, obstruindo alguns pontos.
Carros passam zunindo por mim e os sinais apagam. Parece estar havendo uma pane elétrica na cidade.
As buzinadas correm soltas.Olho pelo retrovisor e constato que continuo sendo seguido. Eles não fazem questão de disfarçar e sempre que podem aceleram mais, obrigando-me a girar o volante e derrapar, fugindo.
A cada quilômetro que dirijo constato que estou mais perto de Turim. As árvores sinalizam o caminho, mas também tornam a estrada mais estreita.
Forço as minhas mãos a pararem de tremer.
Não posso ficar nervoso. Não posso fraquejar. Não posso e não vou ser o homem que desiste assim.— Eu não vou morrer agora! — esbravejo. — Eu não vou!
Entretanto, como que para provar que não sou o responsável pelo meu destino, o pneu de trás estoura. Demoro um pouco para perceber que não foi nada por acaso, mas sim graças a um disparo de arma de fogo.
Mais e mais tiros se seguem.
O vidro de trás se estilhaça em milhares de pedaços, então eu me curvo, protegendo o rosto.
Outro tiro... Outro... Outro... Outro...
Não sinto absolutamente nada. Não consigo nem mensurar o tamanho da sensação de vazio que me abraça quando perco o controle e vejo o meu carro ir diretamente contra uma árvore, batendo nela com tanta força que o air-bag inflam contra o meu rosto, machucando o meu nariz.
Sou atirado brutalmente contra o volante, mas o cinto de segurança me puxa para trás.
Sinto um gosto forte de sangue descer pela minha garganta.
De resto, percebo apenas um barulho tão alto e tão intenso que titubeio. Quero levantar e sair, mas minhas pernas estão presas nas ferragens. Ao menos é essa a conclusão que chego, já que elas estão pesadas e doem.
Fumaça cobre o ar assim como a chuva.
Por um mísero segundo tenho vontade de rir. Rir do maldito tumor que apesar de ser terminal, é a última coisa que pode me matar agora.
— Acho que está vivo! — falam.
Zum... Zum... Zum... Os carros passam. Zum... Zum... Zum... Mais carros. Parecem borrões. Zum... Zum... Zum... Há sangue escorrendo do meu nariz e cobrindo os meus lábios. Zum... Zum... Zum... Escuto se aproximarem.
— Isso foi só um aviso, entendeu? — ralham, empurrando contra a minha bochecha o cano de uma arma. — O chefe não vai te perdoar por aquele soco. E ele te quer longe da garota dele. Ouviu? É o último aviso que vamos dar.
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Fuego En La Sangre - Livro 2
Romance" Passei bastante tempo nas estradas olhando em volta. Eu procurava algum traço dela, qualquer coisa. O tom de pele, a cor dos cabelos, a risada alta e contagiante. Qualquer coisa mesmo. Mas até a esperança pode acabar. ...