• Sete

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Daiane

Rejeito a quarta ligação da minha mãe e resolvo mandar apenas uma mensagem de texto avisando que estou bem.
Ela não para de ligar. Mamãe quer saber quando irei voltar ao Brasil. Ela e o papai não se conformam com a minha partida. E mesmo que eu vá visitá-los pelo menos umas três vezes por ano, eles ainda reclamam pela minha ausência.

E eu os entendo, também sinto suas faltas, mas o que posso fazer se a minha amiga precisa de mim? Além do mais, acabei criando um afeto sincero pelo Ruggero. Quer dizer, estou consciente do puta erro dele no passado e nada vai apagar a raiva que senti ao saber disso, mas as circunstâncias agora são outras e se eu não ajudá-lo, tenho um profundo medo do que pode acontecer. Ruggero está perdido dentro de si mesmo.

Por isso Alex e eu decidimos não contar nada sobre o beijo que vimos. Pelo menos não ainda. Precisamos apurar mais sobre esse assunto antes de sair alardeando a questão. Ademais, a Karol pode não se lembrar de mim, mas eu me lembro dela, e sendo assim, jamais irei entregá-la de bandeja sem antes ao menos entender o que está se passando.

Acordei hoje determinada a empurrar para longe a irritação e a decepção que senti ao vê-la me rejeitando e decido que tentarei encontrá-la e ajudá-la. Minha amiga precisa de mim. Eu sei que precisa, eu sinto isso.

E, caramba, eu sou Daiane Ramos, eu não desisto fácil de quem eu amo!

E é exatamente por isso que me levanto cedo porque sei que o Ruggero irá visitar a Eli. A minha doce e perfeita Elisa. Uma verdadeira fada que teve suas asas ceifadas por um maldito que eu amava muito, mas que agora sei que era apenas um desgraçado estuprador.

Nunca irei perdoar o Javier por isso. Espero que ele queime no inferno junto do crápula do Felipe. E, aliás, torço para que o Santiago vá para lá logo. Não acho que vá durar mais tempo. Pelo o que os médicos falam para o Ruggero a cada boletim mensal, o infeliz está num coma tão, mas tão profundo que não acredito que possa acordar, a não ser que ocorra um milagre — mas convenhamos, que santo operaria um milagre naquela desgraça?!

— Está tão calada que até fico com medo. — Ruggero graceja assim que estaciona na frente da clínica onde a Eli está. — Aconteceu alguma coisa?

Desafivelo o meu cinto e me olho rapidamente pelo retrovisor. Os meus cabelos estão presos em um rabo de cavalo e eu não sei se gosto, porque prefiro os meus cachos soltos e bagunçados, mas não tive tanto ânimo assim para me arrumar, apesar de acordar determinada e tal.

— Não aconteceu nada. — Minto. — E com você? Tudo bem? De boa?

Ruggero maneia a cabeça dizendo que sim, mas sei que é mentira.

Aprendi a conhecer esse carinha. Digo, até o silêncio dele fala. E a cada mês que se passou desde o sumiço da Karol, Ruggero foi se calando mais e mais. Às vezes seus olhos conversavam mais comigo do que sua boca que mal se abria para pronunciar uma palavra.
Ele ficou numa fossa infinita. Dava até medo.

Ainda bem — apesar de ser um chato de galocha — que o Alex apareceu. E mesmo sendo o ser humano mais irritante e folgado do mundo, ainda assim, ele consegue trazer alegria para nós com as merdas que acontece em sua vida.

— Deixa que eu levo. — Ruggero diz, pegando das minhas mãos a pequena pilha de livros que eu trouxe para ler para a Eli. O quarto dela já está virando uma biblioteca. — E então, você e a minha irmã...

Suas palavras ficam pairando no ar enquanto entramos na clínica e vamos até a recepção dar os nossos nomes e pegar um adesivo de "visitante".
Já peguei tantos adesivos desses que posso colecionar. São coloridos e com desenhos de carinhas felizes. Eu gosto. Combina com as minhas roupas.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now