• Três

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... Olhe nos meus olhos...

... Você não pode se apaixonar por mais ninguém, Ruggero...

Eu te amo... Não me esqueça.

...Posso te pedir uma coisa? Não me esqueça.

Meus pés derrapam no piso e preciso me apoiar à parede perto do palco. O barulho que ecoa através das caixas de som acopladas ao teto parecem reverberar dentro da minha cabeça.

... Não vou me apaixonar por mais ninguém.

Você jura? ...

Não preciso jurar...

O refletor passa pelo meu rosto e me faz fechar os olhos por um segundo.

É ela. É ela.

Acordando do meu torpor e emergindo direto do profundo oceano de lembranças, começo a me mexer, empurrando a todos que encontro pelo caminho, gritando para que me deixem passar.

Uma coisa forte e amarga enrosca em volta do meu coração fazendo-o bater mais depressa para não correr o risco de parar.

As palmas das minhas mãos pinicam e tudo sai de foco a cada passo que dou.

Quantas vezes não sonhei com esse momento? Quantas noites não acordei desesperado pensando tê-la encontrado, mas no fim era só uma ilusão criada pela minha mente?

Não. Não! Agora é real.

É ela. Eu a encontrei.

— SAI DA FRENTE! — Grito o mais alto que posso, mas a música ainda abafa a minha voz. — SAI! SAI DA FRENTE!

É ela. Ela voltou para mim. Ela está viva. Eu sempre soube. Eu nunca duvidei. Os detetives estavam errados. Ela não estava dentro do carro que explodiu. A minha mulher se salvou. A minha filha se salvou.

Eu as recuperei.

Meus pés freiam automaticamente quando tudo fica escuro. As luzes se apagam quando a música para. Um toque baixo e ritmado recomeça, dessa vez numa pegada mais lenta e sensual, então riscos em tons de vermelho começam a dar vida novamente ao espaço — para a vibração de todos.

Foi uma parte do show. Só isso. Está tudo bem.

Recupero o fôlego e tento enxergar por entre as fumaças que me rodeiam e a iluminação ruim que me dói os olhos.

Tropeço em alguma coisa e esbarro no encosto de uma cadeira adiante.

Estou prestes a gritar por ela quando a luz volta ao normal e eu a vejo. Lá está ela. Agora com menos roupa ainda.

Apenas uma calcinha e um sutiã da mesma cor vermelha que faz sua pele saltar aos meus olhos — e aos olhos de todos os outros homens que comemoram como idiotas, lançando palavras obscenas em sua direção.

Não que ela se importe. Ela até parece gostar.

Franzo a testa ao vê-la ir até um homem sentado em uma cadeira que está no palco. Ela para perto dele e se agacha entre suas pernas, apoiando as mãos em seus joelhos, então levanta, empinando o traseiro na direção do público eufórico que adora a visão que tem.

O sangue congela nas minhas veias no exato instante em que ela se curva, rebolando no colo do homem que a toca como se fosse sua, deslizando suas mãos imundas pelo corpo DA MINHA MULHER. MINHA. MULHER. MINHA!

Inundado do mais profundo ódio, abro caminho sem pensar em nada além de matar aquele infeliz e subo no palco, agarrando-a pelo braço e a puxando para trás. O homem se levanta de supetão e eu acerto um soco no queixo dele, derrubando-o do palco. Ele cai em cima de uma mesa primeiro e depois desaba sobre o piso levando consigo garrafas que se estilhaçam perto de seu corpo nojento.

Fuego En La Sangre - Livro 2Where stories live. Discover now