Lei do Retorno

Capítulo 18 - Alice

— Você tem certeza? — A mulher baixinha atrás de mim me pergunta. Seu cabelo preto é menor que o do Théo, e seus olhos estão tão maquiados, que chega a me assustar um pouco, 10 horas da manhã é um pouco cedo para um olho esfumado, não?

Eu estou sentada em uma cadeira, olhando meu reflexo no enorme espelho à minha frente. Minha roupa está coberta pela manta preta, presa ao meu pescoço. Em suas mãos estão um pente e uma tesoura, prontos para atacar o meu cabelo.

— Tenho. — Levanto os olhos para o Théo que me olha indeciso atrás dela, me seguro para não rir, a mulher bate na altura do peitoral dele.

Ela sorri largamente como se tivesse acabado de ganhar o brinquedo preferido no natal, e então toma uma expressão mais concentrada, apesar do sorriso ainda estar vivo no canto de sua boca.

Fecho os olhos. Nunca cortei o cabelo na vida, apenas aparava-o de vez em quando, para que permanecesse saudável, mas algo radical como agora, eu jamais tinha feito. Posso até ter coragem para cortá-lo, mas para ver alguém fazendo isso, eu ainda sou covarde. Aos poucos sinto minha cabeça ficando mais leve, e respiro fundo ainda sem coragem de abrir os olhos.

— Não quer abrir os olhos para ver como está ficando? — A voz da baixinha que está cuidado do meu cabelo, soa, e eu apenas balanço a cabeça negativamente. Ouço seu riso baixinho, mas não me incomodo.

Ela vira minha cadeira, e me pede para abrir os olhos para ir até o lavatório. Eu caminho até lá, ainda sem ver o tamanho do meu cabelo, mesmo depois de lavado, e enquanto ela o escova.

Tanto ela quanto Théo ficam brincando comigo porque ainda não tive coragem de abrir os olhos, mas não me importo. Ouço o secador ser desligado, e meu coração acelera, tomara que eu não me arrependa, não curto muito mega hair.

Abro os olhos para ver meu cabelo lindo. Não tão curto quanto eu pedi, mas acho que mais bonito do que estaria se ela tivesse me obedecido. Ele está apenas alguns centímetros abaixo do meu ombro, e me deixou bem diferente do que eu estava com eles maiores. Ergo o queixo, orgulhosa. Meu reflexo mostra uma mulher forte, destemida, corajosa, e me impressiono como apenas um corte de cabelo pode ter efeito sobre a autoestima de uma mulher.

Saí do salão com o Théo me cobrindo de elogios. Minutos depois ele para o carro em uma casa enorme, não dá para ver muita coisa daqui de fora, com esses muros altíssimos, mas parece ser bem imponente. Descobri depois que era a casa do Théo, e por mais que ele tivesse me convidado para entrar, eu preferi ligar para minha prima, e explicar a loucura que foi essa manhã. Mal chama e ela já atende.

— Como assim você está viajando com um cara? — Charlie já atende irritada.

— Calma, eu posso explicar. Eu estou indo para a casa de praia do Théo, em fortaleza.

— Humm, com o Théo, é? Mas porque você tomou uma decisão dessa? Tudo bem que ontem você me disse que iria ligar para ele, mas daí a viajar?

Mordo o canto da boca, nervosamente. Não sei bem o que ela vai achar da atitude que eu tomei.

— Eu não consegui me conter, e contei para o Henrique sobre a Desiré. — Disparei, e encontrei com o silêncio do outro lado da linha. — Você tá aí?

— Estou. Você simplesmente... Contou algo assim? — Fiz um ruído afirmativo — E esperou realmente que ele fosse acreditar que a esposa dele estava traindo-o com o ex-estagiário? — Ela pergunta incrédula.

— Sim?

— Você só pode ter ficado maluca! E agora o que? Vai viajar com o Théo como se ele fosse remédio, Ali? Você não pode fugir toda vez que acontecer algo que for além do seu controle!