Capítulo 32

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Alice

Minha cabeça está latejando. Provavelmente por conta da minha falta de alimentação e o sono atribulado.

Jogo o edredom para o outro lado da cama e tento levantar. Vejo-me meio tonta e percebo que me esqueci de fechar a janela quando a claridade exagerada atinge meus olhos, fazendo-os fechar-se imediatamente.

Vou até a janela de olhos semicerrados e puxo as cortinas para o lugar onde elas deveriam estar. Caminho até o banheiro e jogo água gelada em meu rosto. Olho no espelho e percebo uma pessoa cansada, preocupada. Retiro-me do ambiente, recusando-me a me ver dessa maneira.

Vou até o closet e separo as roupas que irei vestir e não consigo escolher nada que não seja preto. Após fazer minha higiene pessoal e me arrumar o suficiente para estar apresentável, eu me sento na cama. Respiro fundo, uma, duas, três vezes. Por que é tão difícil me acalmar?

Ontem depois de abrir o meu "presente" e me assustar como qualquer pessoa normal, eu decidi não contar para ninguém sobre aquilo. A não ser o Sr. Rubras que prometeu passar no meu escritório no dia seguinte para averiguá-lo.

A noite inteira eu tive o mesmo sonho da outra vez. Novamente estava naquela sala e após o Theo ir embora, a Eloise me encarava com ódio, e caminhava até mim. Antes de acordar dessa vez, lembro-me bem da sua voz me aconselhado.

Pare de ser enxerida. Ela ruge. Ou eles vão garantir que você acabe igual a mim.

Eles. Foi à última coisa que pensei antes de acordar nessa manhã. Há possibilidade de não ter sido uma, mas duas pessoas a cometer tal brutalidade? Já é difícil acreditar que alguém seja tão doente para cometer uma atrocidade daquelas, mas duas pessoas ter a mesma doença mental...

Mas não posso levar a sério algo que eu sonhei. Sonhos são apenas sonhos. Assim, faço o que posso para sair do quarto e encarar o mundo. Chegando na sala de jantar, eu vejo meu pai e minha mãe sentados de frente para a Charlotte rindo de algo que ela falou. Por que sempre que você está uma merda, as pessoas ao seu redor têm que estar extremamente felizes? Tento jogar meu mau humor no fundo da minha alma, e colocar um sorriso no rosto.

— Do que estão rindo? — Pergunto quando chego à sala.

— Um casal muito louco que chegou à sala da Charlotte ontem.

— Ah, eu também quero rir. — Peço, mesmo não estando com tanta vontade assim.

— Para não soar repetitiva eu vou resumir, o casal chegou lá brigando e dizendo que não se aguentam mais e querem se divorciar, eu tentei bancar a conciliadora, claro, e depois de discutirem um bocado eles simplesmente começaram a se pegar na minha frente!

Não aguentei e ri um pouco.

— Aposto que você se acabou de rir.

— Claro que não! — Ela deu uma de ofendida. — Eu sou uma advogada profissional, Alice, e claro que lutei arduamente para manter a postura séria e imparcial todo tempo em que eles estavam na sala, só depois que eles saíram que eu caí na gargalhada. — Ela sorriu cínica, e não contive o riso novamente, só a Charlie para me fazer rir em uma situação como essa.

— Daria tudo para presenciar você segurando o riso. É hilário.

E é mesmo, a expressão da Charlie de profissional quando ela está com vontade de rir é tipo de um comediante de stand-up quando conta uma piada muito engraçada e não quer rir.

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