Bônus: Assassino (a)

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 Eu olhava para a janela e visava os carros passando lentamente na avenida. As pessoas passando na frente dos carros sem se importar se o sinal estava vermelho ou não. Na cabeça delas é como se fossem imortais, é o mal do século, as pessoas vivem como se suas vidas não fossem acabar nunca, mas não é assim que acontece, a morte chega para todo mundo. Para uns chega cedo e para outros demora um pouco mais, mas uma coisa é certa: A morte sempre chega.

Quando um ente querido morre, as pessoas costumam buscar alguém para culpar, afinal de contas precisam descontar sua raiva pela perda recente em alguém, mas em muitas vezes, a culpa é exatamente do defunto. Isso porque, sem perceber as pessoas estão procurando a própria morte, às vezes bebendo e dirigindo, às vezes se drogando, às vezes fumando, mesmo sabendo os perigos do tabaco. Às vezes, as pessoas atravessam ruas sem olhar como muitos fazem ali diante dos meus olhos, ou outras vezes as pessoas provocam a própria morte com pirraças, e o que acontece? Um monte familiares hipócritas, vão a justiça fazer um julgamento idiota, como se a pessoa não tivesse procurado a própria morte. O julgamento de hoje por exemplo. Aquela putinha irritante procurou a própria morte e ignorou os meus avisos e ainda assim, um circo foi montado. A foto dela estava em todos os jornais, os apresentadores falavam coisas horríveis sobre quem a matou, e na legenda das reportagens seu nome era escrito seguido de uma palavra totalmente injusta: Vitima. Tudo o que Eloise não era.

As pessoas são verdadeiras atrações de um circo enorme: A vida.

Sabendo tudo isso, eu fiz meu serviço direito, pois sabia que não adiantava nada tentar falar meus motivos para um júri, aqueles idiotas achando que entendem o que é lei e justiça, iam achá-los supérfluos, e eu ia apodrecer na cadeia.

Pensando na Eloise, eu me pergunto como ela deve estar agora, deve estar se revirando no tumulo de tanto rir desses idiotas, afinal ela aprontou a vida inteira e ainda virou vitima depois da morte. Uma verdadeira piada.

Viro-me e vou em direção a televisão, ligo-a e deito-me no sofá para matar o tempo, ainda faltam algumas horas até o julgamento. Como imaginei os principais jornais nacionais estão falando do julgamento que se aproxima. A imagem que está sendo refletida na televisão é do Leandro saindo da viatura algemado e acompanhado de dois policiais com quase o dobro de sua altura.

Eu deveria estar sentindo remorso não é? Afinal de contas, ele não teve culpa de nada e está pagando pelo que eu fiz. Não, eu não sinto. Ele merece estar no lugar em que está. Ele sabia a cobra que dormia ao seu lado todas as noites, sabia de suas aventuras, de sua crueldade, sabia exatamente quem era a mulher a quem ele dizia que amava, e o que ele fez? Continuou ao lado dela, como um cachorrinho no pé da mesa de jantar esperando as migalhas da sobra. Ele merece sofrer por devotar seu amor a uma mulherzinha como aquela, que merecia exatamente o que teve, morrer sozinha, sem nem ao menos um feto vivo na barriga.

Não me olhe assim, eu não sou um monstro. Aquela criança não podia nascer, vocês não conhecem a Eloise como eu. Se aquela criança nascesse, todo mundo perderia inclusive a própria. Eloise não saberia cuidar da criança, não saberia ser mãe, porque não conseguia pensar em ninguém alem dela própria. A criança estava destinada a sofrer, a viver uma vida de rejeição e desamparo. Eu fiz um favor a ela. A morte é um alivio, quando a única perspectiva de vida é o sofrimento.

Por tanto queridos leitores, eu não sou um monstro, estou mais pra anjo nessa história toda.

Lei do RetornoWhere stories live. Discover now