The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulf

Prólogo

Episode: O pássaro enjaulado.

4 anos antes.

Deitado sob alguma planície sólida, fria e demasiadamente desconfortável, Gulf se perguntava como tinha se permitido chegar naquele estado. Ele podia sentir a densa fumaça sobrevoar o local e também ouvir alguns de seus amigos rirem por cima do som estridente da música. Alguma desconhecida aleatória estava ao seu lado e passava a mão despretensiosamente pelo seu corpo, ela provavelmente estava tão alta quanto ele.

Ele sabia, no cerne de sua alma, que ter ido se embriagar logo após todo o acontecido era provavelmente a segunda pior decisão que havia tomado em toda sua vida. Seu agente iria esganar-lo e gritar incontáveis advertências em seu ouvido.

Mas, naquele momento, ele não se importava. Estava imerso na densa sensação de estar completamente fora do ar. Disperso. Todos aqueles sentimentos e pensamentos sombrios estavam tão envoltos na neblina do álcool que o fazia ter a doce ilusão de que sentia paz ou algo próximo a felicidade.

Porém, de fato, aquela passividade não durara muito. Logo ele pôde ouvir alguns gritos estridentes preencher o local, para então serem seguidos por um silêncio abrupto.

James havia chegado, Gulf percebeu no meio de sua névoa.

- Você está bêbado, Gulf? - A pergunta flutuou pelo ar, mas o rapaz não sentiu que era capaz de respondê-lo. Estava meio confuso, na verdade.

- Estou bem - ouve uma pequena pausa, e então Gulf soltou uma risada. Sequer parecia que aquela era a sua voz.

Ele ouviu um estalar de língua. Quase conseguia visualizar seu agente franzir a sobrancelha e deixar os lábios em uma linha dura, como sempre fazia quando estava contrariado ou irritado. Mas Gulf se recusava a abrir seus olhos para descobrir se sua imagem mental estava certa, pois suas pálpebras pareciam pesar uma tonelada.

- Você está nojento - seu agente resmungou. Ou talvez tenha gritado. Gulf não era capaz de distinguir - Isso é cocaína em cima da mesa?

Ele tentou se forçar a abrir os olhos, mas a luz propagada era clara demais e sua íris estava sensível. Acabou ignorando a pergunta.

As chances de haver cocaína ali eram grandes, afinal de contas. Nada realmente fora do normal.

Gulf provavelmente também havia usado, mas era incapaz de obrigar a sua mente a se lembrar com exatidão.

- Eu sei que é uma situação... - Seu agente começou a falar, mas Gulf desviou sua atenção. Ele não queria ouvir sobre aquilo. Não queria saber sobre nada.

- Eu não vou mais jogar - falou, interrompendo James, lutando contra a neblina que ofuscava sua mente.

- Não é uma decisão a ser tomada nesse estado. - o homem retrucou.

A cabeça de Gulf começou a girar. Ele trincou os dentes.

- Eu não vou mais jogar. - Repetiu.

Ele quis soar firme. Quis parecer forte. Mas ele soava exatamente como parecia.

Um drogado.

Mas ele sabia que, mesmo se um dia estivesse sóbrio, nunca mais colocaria os pés no campo. Ele não merecia ser aplaudido por multidões.

- Eu não posso mais - para sua completa desgraça a frase foi dita com um soluço engasgado. Ele nem percebera que havia começado a chorar - Não posso mais, James. Não depois do que eu fiz.

- Não se martirize, garoto - seu agente tentou acalma-lo. A voz soava distante, mas o jovem rapaz ainda podia ouvir a preocupação ali.

Gulf não deixou de notar que ele também não tentou contradizer-lo.

E, mesmo ele sabendo que aquela era a verdade, doeu não ouvir uma negação.

Ele era culpado.

E todos sabiam disso.