Chapter LIX

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Episode: we are made of glass

Mew ficou quieto, enquanto escutava Grace discorrer tudo o que sabia sobre o passado do irmão. Ele mantinha-se com um rosto inexpressivo, mas a mandíbula tensa e os olhos distantes e atentos exteriorizava toda a bagunça que aquela história estava fazendo com sua cabeça. Grace sequer tivera coragem de o encarar enquanto falava, visto que, durante o pequeno instante em que arriscou fitar-lo, ela sentiu o estômago se revirar em apreensão por causa da intensidade que enxergou naqueles olhos.

Suppasit tinha um turbilhão por trás daquelas orbes escuras e expressivas. Era como assistir a tempestade pela janela de uma casa, vendo o mundo desmoronar do lado de fora, enquanto dentro tudo era calmo e tranquilo.

No caso dele, no entanto, era seu interior que comportava um vendaval.

E, apesar de saber que aquela calma expressada era meramente uma máscara de proteção, Grace estava surpresa. Ela esperava reações exasperadas, questionamentos ou até lagrimas. Mas a única reação do músico fora de uma quietude inabalável, mantendo seus olhos distantes e impossíveis de serem interpretados, mas com ouvidos atentos a cada ínfima palavra que saia de sua boca. E Grace percebia a atenção dele aos detalhes. Percebia pela forma que seus ombros se enrijeciam em alguns momentos ou pela forma em como ele parecia mover a cabeça para longe sempre que parecia demais ouvir alguns detalhes incômodos.

Grace falava com uma calma calculada, sentada no banco com a mesma postura de quando chegaram, seus cabelos presos para evitar que o vento os jogassem em seu rosto e atrapalhasse sua narrativa. Ela era eloquente. As palavras saiam com fluidez e facilidade, a ordem dos acontecimentos seguiram um linha reta e constante. Ela falava como uma contadora de história - de uma história terrível - mas sua expressão mantinha-se suave, demonstrando respeito para a sensibilidade daquela revelação.

Quando Grace começou e discorrer sobre o que aconteceu no ultimo encontro de Gulf e Jom, Mew se levantou abruptamente e andou até o muro do hospital, curvando-se em cima dele e encarando o céu aberto. Ele não retornou o olhar para a irmã do jovem professor, mas deu um breve aceno para incentiva-la a continuar.

Grace permaneceu firme, embora precisasse admitir que vacilou em sua calma quando viu Mew abaixar a cabeça e fechar o olhos ao que ela narrava o acontecimento final. Mew levou a mão até o rosto, para cobrir sua expressão, e continuou em silêncio mesmo quando ela já não tinha nada mais para falar.

- James tirou Gulf da fraternidade - Grace concluiu em um fio de voz - Garantiu que outras pessoas encontrassem Jom e não soubessem que ele também estava lá durante... Tudo.

Mew deslizou as mãos, que estavam sua cabeça, até a nuca. Ele respirava de forma irregular.

Ele parecia não aguentar ouvir aquilo. E, por isso, Grace se calou.

E, então, houve o Silêncio.

Não completo. Ainda era possível ouvir o ruído do vento forte, o mar agitado à distância, Grace poderia jurar que era capaz de ouvir até seus batimentos cardíacos. E a ausência dos batimentos do músico.

O silêncio que emanava dele era como uma quietude vinda das profundezas de um abismo, era um silêncio que ecoava pelos ossos, que gritava com lábios costurados e chorava lagrimas de vidro. Era um silêncio inundado de gritos afogados, de respirações interrompidas e olhos que não enxergavam. Era um silêncio coberto por uma falsa postura imparcial.

De todas as reações previsíveis que a irmã do jovem professor poderia pensar, indiferença não estava em nenhuma delas. Mew estava apenas em silêncio. Era como se ele tivesse entrado em uma bolha, onde só ele era capaz de presenciar os pedaços de vidros caindo em um tilintar no chão.

The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfWhere stories live. Discover now